Verdades racionais, verdades espirituais

Com o propósito de compreender as mútuas relações e conflitos entre o mundo de nossa razão e aquele do espírito, importa considerarmos que o primeiro é o mundo da lógica e da ciência, enquanto o segundo consiste em nossas experiências íntimas da presença de algo inefável, as vivências virtuais da crença e do simbólico, o mundo dos sentimentos e dos valores.

Não obstante, há uma implicação mútua entre as verdades racionais e aquelas do espírito, bastando termos em mente que se nosso espírito depende da matéria física, ele, por sua vez, a transcende, na medida em que a interpreta e a compreende, como fonte originária de todo nosso conhecimento.

Ora, isto nos traz à mente o fato de que podemos constatar, em nosso esforço para compreender a realidade, a existência dinâmica de dois fluxos de complexificação, um ascendente, da matéria para o espírito, e outro descendente, do espírito para a matéria.

Em nível ascendente, cada estágio superior depende do inferior, sem o qual ele não se constituiria. Dessa forma, o nível atômico sustenta o mundo de nossa realidade físico-química, que por sua vez dá origem ao universo biológico. Este faz surgir nossas manifestações psicológicas, que serão depois o sustentáculo do mundo espiritual. É a evolução do mais simples ao mais complexo.

Inversamente, em nível descendente, o estágio mais evoluído corporifica um mundo de reações autônomas que deixam transparecer uma capacidade de transformar os níveis inferiores, colocando-os a seu comando, por força de efeitos quânticos.

Dessa forma, percebemos o perfil holístico dos diferentes níveis que compõem a realidade humana, a partir de nosso mundo físico, nossos cinco sentidos evoluindo para o psíquico, o mental e o espiritual, dentro dos quais se esboça a natureza própria de toda a realidade. Neles não se encontram excluídos nem a acaso, que pela lógica não parece existir, e muito menos o determinismo condicionante de tudo o que ocorre.

Portanto, limitar ou reduzir o estofo da realidade a apenas um de seus aspectos, por exemplo, a sua materialidade, constitui um grave erro de perspectiva, na medida em que deixa de reconhecer que, sem a pressuposição da realidade do mundo espiritual, tudo fica caduco e sem sentido!