Um diálogo entre filosofia e poesia

1) O Universo é indiferente aos desejos humanos. Somos Espírito numa terra estranha, que não tem resposta para nossas aspirações. Não obstante, o problema não é insolúvel e com certeza as respostas podem ser encontradas. Por isso, clama o filósofo: Faça-se a Luz!

E a resposta do poeta se faz pronta:

ARTE DE DECIFRAR

Estamos cercados de mistérios
Como em claustros ou monastérios
Nos quais monges pensativos
Estão à cata dos motivos

É a face mística da vida
Que requer nossa acolhida
Entrar num mundo de magia
Que não é só de fantasia

Eis mundo maravilha
Como se fosse uma trilha
Na qual o encontro com a fé
Descortina o que ela é

 

2) Procuramos uma explicação definitiva. Ou explicamos tudo ou não explicamos nada. Esta resposta procurada se esgota dentro do próprio Universo ou se encontra fora dele?

Resposta do poeta:

EXPLICATIO/IMPLICATIO

Explicar para compreender
Implicar para envolver
São condições a anteceder
A miragem criativa do saber

Há um puro paradoxo
Do pensar ortodoxo
Que deixa a mente cativa
Sem vislumbrar perspectiva

Os detalhes são importantes
Servindo como implicantes
Ou condições estimulantes
De sínteses englobantes

3) Há só dois caminhos para compreendermos a realidade: a pesquisa ou a fé. Contudo, os discursos da ciência e da fé nos parece serem incompatíveis.

A resposta do poeta pode ser de dúvida:

DESCRENÇA

Não creio em nada
Sou como um animal
Que não tem escada
Para elevar-se no ideal

Esta vida boba
É bebida salobra
Tem sabor de desgosto
Marca forte no meu rosto

Assim é melhor morrer
Que toda hora sofrer
Sem ter como saber
A razão do meu viver

4) O apelo só à razão é uma tentação permanente entre os pesquisadores. O Universo parece conter em si as razões cabais de sua própria existência.

Isto não satisfaz o poeta:

RAZÃO ILUMINISTA

Nossa razão não explica
O que a vida implica
Como fontes de nossos tormentos
Os dramas e sentimentos

Tal razão mal concebida
Como só de provas incumbida
Não faz mesmo alusão
A qualquer tipo de paixão

Isto é pura confusão
Forte limitação
Pois a razão é apenas parcela
Do Espírito que a desvela

5) As teorias para dar conta do funcionamento do Universo se sucedem. A mais recente vê a realidade como se fosse uma melodia:

TEORIA DAS CORDAS

Ondas, vibrações…
São universos, reações
De muitas cordas, instrumento
De partículas em movimento

Perceber-se ondulante
É como ficar flutuante
Oscilando a cada instante
Num universo elegante

Cada ser é uma canção
Gerada na irrupção
De sons que irradia
O cosmo em harmonia!

6) Não obstante, há uma grande decepção quanto a consistência das últimas explicações, que são reféns de seus pressupostos.

Por isso, o poeta sente a razão como suspeita:

RAZÃO TEMERÁRIA

Razão que se diz consciente
Sem limites e independente
É perigo iminente
De algo ruim pela frente

Pois ela precisa ser mediada
E por algo, mais sedimentada
Que não a faça transbordar
Os limites razoáveis do pensar

Seu contrapeso é a sensatez
Ponderada a cada vez
Pela certeza da pequenez
De nossa pouca lucidez

7) Se não há explicação definitiva, temos que duvidar de nossas lógicas.

O poeta sentiu o problema:

LÓGICA E CONTRADIÇÃO

A partir do raciocínio
Vejo meu tirocínio
Vaguear em contradições
Sem encontrar soluções

Porém, importa reconhecer
Que para haver lógica no ser
É preciso perceber
O oposto do não-ser

Então, parece que o problema
Consiste apenas num dilema
Que coloca a afirmação
Igualando a negação

8) Abre-se para nós, portanto, perspectivas que vão além das aparências.

O poeta sentiu logo a inspiração:

ESTRELAS

Fico extático ao vê-las
Como são belas as estrelas
Mostrando coortes de luz
Como brilhante que reluz

Pois tal luminescência
É majestosa aparência
De quem criou tanta beleza
Mostrando poder e realeza

Assim, basta ficar atento
Despertando o pensamento
À admiração do momento
Que provoca encantamento!

9) Razão e Intuição parecem ser dois discursos antagônicos.

O poeta percebeu a questão:

LÓGICA DA DIFERENÇA

A razão persegue a verdade
Destino, necessidade
É ímpeto de explicação
Como pura obsessão

Verdades inatas ou adquiridas
Por certo apreendidas
Como formas de intuição
Em espontânea revelação

O pensar não é só demonstração
Pois é também percepção
De uma lógica do coração
Que está além da razão

10) Deus é Princípio que se explica pela própria existência do Universo. Porém, nada podemos saber de Sua natureza:

DEUS ABSCÔNDITO

É o desdobrar-se finito
De um si mesmo infinito
A geração radical
De tudo que é sempre igual

Ele surge transcendente
Como mistério em nossa mente
Que sente Deus presente
Em qualquer ser existente

Deus inspiração, desafio
É algo como um rio
Que muda a cada instante
Sem deixar de ser constante

11) O Universo tem constantes comportamentais que não se modificam:

CERCANIAS MISTERIOSAS

Muitas coisas ocorrem
Que parece que encobrem
As causas das quais decorrem
Ou as forças ocultas que as movem

Isto é clara indicação
De que há motivos em ação
Que por nossa limitação
Não percebemos de antemão

Nem é preciso sermos videntes
Para senti-las como presentes
Pois basta apenas sentir
Algo extraordinário a agir

12) A ficção de universos paralelos é uma hipótese não apenas fictícia:

ESSÊNCIA PARADOXAL

Pluriverso universo
Unidade do disperso
É o pressuposto contracto
Como potência e como ato

A infinidade fica restrita
A eternidade se limita
Criando formas que enriquecem
E mundos paralelos aparecem

Deus, essência do mundo
Tempo eterno num segundo
É unidade do plural
Na dispersão universal

13) Por que existe algo em vez do nada? Para negar é preciso antes afirmar:

O SER E O NADA

Negar é ainda afirmar
Que tudo o que não é
Ainda assim é

Pois, mesmo sendo não
É vácuo de compreensão
Pressupondo que a negação
É ainda afirmação

Assim o primeiro é o ser
Mesmo que se constate o não-ser
Que é puro conceber
Como oposto no aparecer

14) Aumentando o conhecimento, aumenta também nossa ignorância:

DOUTA IGNORÂNCIA

Dúvidas do que afirmei
Sei que nada sei
Minha certeza é suposta
Incerta como uma aposta

Argumentos plausíveis
Só a poucos acessíveis
Tornam apenas verossímeis
O universo dos possíveis

Isto requer humildade
De quem não tem autoridade
Nem mesmo a veleidade
De alcançar toda a verdade

15) Deus, apodítico em Sua Essência e Existência:

SENTINDO A VERDADE

Sinto a verdade, intuição
Sem raciocínio, inspiração
É toque de luz
No brotar do que reluz

Sinto a verdade, presença
Que faz viva minha crença
No chamado de Alguém
Que me conhece muito bem

Sinto a verdade, revelação
De um drama em ação
É o desenrolar da redenção
Da humana condição

16) Um Universo em evolução que sabe aonde deseja chegar:

O MESMO E O DIFERENTE

O mesmo é identidade
Própria da coincidência
Do ente como essência
Una em sua verdade

Diferente é o modificado
O que é novidade
No contexto da igualdade

O mesmo é a repetição
O diferente na alteração
É a surgida transformação
De toda a criação

17) Deus guiando a evolução?

DISTANCIAMENTO

Não sou detentor do segredo
Que me assegurasse sem medo
Como se processarão
Os destinos da criação

Por isso mesmo
Proponho dizer sem vezo
Que o melhor é confiar
E pala Providência me guiar

Isto torna o desconhecido
Misterioso como um tecido
Ao qual contemplativo
Me rendo inteiramente passivo

18) Deus como Pessoa Una e Trina:

O VERBO DIVINO

Deus que é trindade
Na sua identidade
Logo se expressou
Eu sou aquele que sou!

Sujeito, objeto e predicado
Um em três implicado
É linguagem de consistência
Expressando refluência

Pai, Filho e Espírito Santo
Três notas de um mesmo canto
Afinando a melodia
Do que se cria a cada dia

19) O processo da criação é repetitivo e dialético:

A REPETIÇÃO DA VIDA

No silêncio calmo da paisagem
Há vida e destruição
Como rito de passagem
No pulsar da criação

É ciência e sabedoria
Saber que a cada dia
O que morre é nova vida
Mais uma vez repetida

Assim cada vida criada
É como surgir do nada
É sina renovada
Como estrada já traçada

20) A fé é fonte de alegria e confiança:

A ALEGRIA DA FÉ

A alegria da fé
Vê o mundo como é
Instável, mas sereno
Como refém de um veneno

Esta toxina é o pecado
Não por Deus inventado
Mas pelo homem gerado
E, por vaidade, praticado

Pois as tragédias naturais
Ou os dramas existenciais
Não são nada de mais
Quando vistos como sinais

21) O Universo é fruto do acaso ou da necessidade? Melhor seria dizer: da necessidade e do acaso:

RAZÃO SUBSISTENTE

A razão é desejo insistente
Muito forte e envolvente
De que a mente da gente
Descubra nexos conseqüentes

Assim, o primado do sim sobre o não
É pressuposto, condição
Pois, para que algo seja negado
Importa supô-lo como dado

Em conclusão
No princípio é a afirmação
De algo em concreção
Que permita a negação

22) Os milagres atestam a presença de Deus:

A LÓGICA DA CRENÇA

Se tenho tudo a duvidar
O que me importa é assegurar
Algo acima de tudo
Como verdade e conteúdo

Creio, logo existo!
É Santo Agostinho revisto
Como aforismo primeiro
E tira-dúvidas certeiro

Pois, é no fato de crer
Que meu ser vai perceber
Esta pura evidência
Ou condição de existência

23) Deus, como Espírito, habita todas as coisas:

EU, ESPÍRITO

Qual impressão de vidente
Sinto dentro, imanente
Como espelho reluzente
Algo em minha mente

Sou eu que o acalenta
Pois é algo que sedimenta
Meu eu oscilante
Que agora não é mais distante

Por Ele meu eu é tudo
Que mesmo passivo e mudo
Enche-se de alegria
Por tão divina companhia

24) O ser humano é algo difícil de compreender:

TRAGÉDIA HUMANA

Vendo a humanidade em pedaços
Dividida em estilhaços
Pergunto a fonte do engano
Que causa tanto dano

A desavença é brutal
A questão é estrutural
A forma é irracional
De encarar o essencial

Um novo homem
Que não seja lobisomem
Só surgirá pelo imaginário
De um pensar revolucionário

25) O problema principal é saber dosar o egoísmo:

CONVIVÊNCIA FRATERNA

Nasci para servir
Participar e interagir
Com quem quer que desejar
No meu trabalho compartilhar

Porém, mais que aceitação
É preciso compreensão
E ficar em alerta
Aos conflitos que desperta

Se demonstrarmos empatia
Com sinais de simpatia
Superaremos a fria intenção
De uma mera aceitação

26) O fim de tudo é a nossa própria felicidade:

TELEFINALISMO

Procurar motivos
Pesquisar objetivos
Pensar um mundo organizado
Eis um desafio obstinado

Tudo tem uma intenção
Concebida de antemão
Há um finalismo natural
Na evolução temporal

A árvore dá o fruto
E o homem em usufruto
Deve fazer brotar
Novos apelos de amar

MUITO OBRIGADO!

Pós-escrito:

QUEM É DEUS

Deus é linha de horizonte
Que se vê ali defronte
Dividindo o espaço distante
Como se fosse diamante

Separando o que está unido
Ele une o dividido
Pois Tal Força é oclusão
Que aglutina a dispersão

Virtual mas muito real
Sua Presença é sinal
De Algo muito especial
Que faz tudo tal e qual