Os paradigmas da ciência profunda

Como é do conhecimento geral, o “desencanto do mundo”, segundo Weber, teve como uma de suas principais causas a redução da experiência apenas à sua condição sensível, aquela constatada objetivamente, caracterizando a chamada atitude “iluminista”.

Em conseqüência, a moral, o conhecimento simbólico, a religião, a arte, foram todos relegados ao plano primário da fantasia, do que resultou uma grave mutilação na visão integrada da realidade, como foi o sonho acalentado desde os gregos até o final da Idade Média.

Não obstante, as últimas pesquisas atinentes aos limites metodológicos da observação científica por um lado, bem como ao aprofundamento das contradições entre as diversas teorias pelo outro, deram margem a que novas perspectivas de integração entre ciência, religião e arte tornem-se possíveis, bastando apenas que sejam respeitados os diferentes níveis de abordagem de cada uma delas.

Assim, resultam de forma clara as diferenças entre o conhecimento científico (explicação), o conhecimento intelectual (compreensão, sentido) e o conhecimento filosófico-místico (contemplação, presença), como resultado das diferentes expressões que formam a complexidade de nosso espírito, origem e fim de todo o processo de conhecimento.

Para tanto, temos que partir da constatação de que em nossa vida psíquica é possível distinguir-se quatro etapas diferenciadas de percepção das coisas, como degraus que se co-implicam e se completam: os Sentidos, a Mente, a Alma e o Espírito.

Os sentidos são as nossas aberturas corporais para a observação exterior; a mente é o primeiro estágio de captação da estrutura das coisas, através da racionalidade, da lógica e do cálculo; a alma é a etapa de vivificação da experiência, pelo aprofundamento do sentido da realidade; e, por fim, o Espírito é o encontro com a substancialidade do EU, NÓS e ELES, em unidade contemplativa, vista como identidade (eu, atitude, consciência), participação (nós, ética) e ciência (eles, conhecimento). A arte é o clímax da integração, o belo em sua singularidade.

Podemos, a seguir, compreender estas diversas expressões do EU como os quatro pilares da sabedoria, assim integrados e mutuamente dependentes:

Eu Atitude Conhecimento Ética Arte
Sentidos Observação, sensível Empírico Sensório-Motora Hedionista Paisagens, figuração
Mente Razão Racional-Quantitativo Modelos Étnicos Impressionismo, surrealismo
Alma Intuição Racional-Qualitativo Ética, sublimação Emoção artística
Espírito Meditação, contemplação Simbólico, imaginário, transcendente Ética da perfeição O belo

A análise do quadro nos indica:

1º) que o conhecimento humano, obtido de forma integral, é uma experiência originada pela interação de quatro níveis de percepção (sentidos, mente, alma e espírito), que se co-implicam e se completam.

2º) que o Eu, através de diferentes atitudes, ativa os seus sentidos, processa os dados obtidos, intui relações qualitativas e, por fim, integra tudo na unidade de uma percepção simbólica e transcendente.

3º) que nenhum campo do conhecimento e da cultura exclui qualquer outro, mas os inclui de forma dialética e hermenêutica.

4º) que ciência, religião, ética e arte não se opõem, mas se implicam numa compreensão semiótica.