Os mistérios da trindade

Falamos em mistérios que cercam a Trindade, pela prevalência que exercem sobre ela o um e o dois. O Um, por ser o princípio de tudo, o poder infinito da criação, expresso na figura de Deus Pai Todo-Poderoso. Ele é a origem de todos os seres; já o Dois expressa o dualismo dominante em nossa realidade física ou mental, na qual corpo e alma, causa e efeito, vida ou morte, saúde ou doença, sim e não, tecem a trama de nossa vida inquieta. O Dois deflui do Um como resultado tempestuoso ao surgir toda a variedade dos seres criados. O Dois está configurado na pessoa de Cristo, o Filho destinado a recompor as mazelas da criação.

Aí surge o Espírito Santo, o laço de amor entre o Pai e o Filho, que convivendo na virtualidade simbólica da relação, corporifica a realidade trinitária que supera todas as contradições. Nosso esforço mental consistirá, portanto, em captar este terceiro momento, fugidio, que envolve todas nossas experiências, sejam objetivas ou subjetivas. Vejamos alguns exemplos:

  1. No campo do conhecimento: conforme observou PEIRCE, não há conhecimento sem uma simbologia que o expresse. Ora, o símbolo é um terceiro em relação ao sujeito que conhece e o objeto que é conhecido. Estes símbolos podem ser um conceito, um objeto percebido, um sinal ou um sintoma, constituindo um mundo abstrato de nossas representações mentais, oscilando entre o observável e o imaginário.
  2. No alcance da Verdade: Ora, a partir da oposição entre saber e ignorar, que tanto aflige os cientistas, percebe-se que é possível atingir uma terceira via, aquela da apreensão direta da Verdade pela meditação e pela prece, como ocorre com os grandes santos e místicos.
  3. No tempo entre viver e morrer: Podemos encontrar um terceiro caminho entre este dilema trágico, o da continuidade do Espírito que habita em nós, pois não tem como destruir-se a si mesmo!
  4. Na experiência do amor: Que só se consolida na geração dos filhos, sem o que o amor entre marido e mulher perde o seu sentido. Igualmente, é dessa forma que o amor homossexual é uma aberração, só se concebendo como uma convivência fraterna. Não mais que isso.
  5. No conflito ético entre o bem e o mal: Já que todos podemos perceber o relativismo em nossas percepções de valores, a solução só pode ser encontrada num terceiro estágio, o enfoque de tudo sob a perspectiva originária da persistência do bem, centrado em que todos nossos atos sejam construtivos e aumentem não só nossa felicidade como também a dos outros.
  6. A experiência do belo e do feio: Ao dualismo originário de nossas apreciações estéticas, podemos encontrar a conciliação através de um terceiro momento, ao pensar que tudo é belo quando visto sob as perspectivas do amor.
  7. Na perspectiva da linguagem: Na relação Eu-Tu pode ocorrer, em primeiro lugar, uma hegemonia do eu em relação ao tu, configurando formas de domínio e egoísmo. Ora, o segredo em superar esta oposição estará em transformar o Tu num Ele -um terceiro-, objeto de desprendimento e afeto.

Como se vê, o mundo de nossas experiências comuns está permeado da presença de sugestões trinitárias , que deveríamos aprender a identificar. Um, Dois, Três, e tudo se explica de uma vez.