Os milagres do Espírito

A experiência corriqueira nos mostra que os acontecimentos que presenciamos são todos dependentes de situações aleatórias, geralmente causadas por condições fortuitas, um verdadeiro aglomerado de realidades virtuais, cujo contexto só é real no confronto de suas relações. Assim acontece com todo nosso viver, que parece ser produto apenas de um acaso inconsequente.

Por outro lado, corroborando a isto, os cientistas têm observado que o Universo, em sua constituição microscópica, é regulado por forças físicas complexas, aparentemente díspares e conflituosas, um mundo atômico quântico e aparentemente caótico, cujas leis não são as mesmas daquelas que regulam nosso mundo ‘objetivo’.

Ora, estando as coisas assim delineadas, observa-se ser um verdadeiro milagre que a matéria possa ter-se organizado, saindo do micro para o macrocosmo, formando um aparente mundo organizado, palco para a ocorrência de muitos fenômenos, com seres diversos vivendo numa profusão infinita de formas e cores.

Ainda mais, como pôde o mundo material gerar seres inteligentes, o milagre da transformação de substâncias químicas em ideias, através do código genético, pelo qual nos tornamos capazes de infletir sobre as causas de tudo, tomando consciência de nossa própria existência, como seres autônomos capazes de interpretar esta mesma realidade: é o espírito certificando sua presença!

Dessa forma, somos levados a reconhecer que tal estado de transformação das coisas não pode ter surgido pelo mero acaso, dados os limites de probabilidade e incertezas que rondam os mecanismos naturais da criatividade, o que acaba por transformar nossa experiência de vida, realçando os aspectos transcendentes e espirituais de nossa realidade vivida.

Estando, pois, inseridos num mundo de virtualidades incertas, aquelas mesmas que observamos na estrutura mais íntima do Universo, somos conduzidos à intuição da existência de uma realidade transcendental, um Logos Subjacente, Espírito Cósmico que constitui e dá sentido a tudo o que existe. Suas características repousam tanto no mundo exterior de nossa observação, como também se encontram no mais íntimo de nosso ser.

Dotando-nos de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, podemos inferir que o mesmo ocorre em relação à natureza íntima do Universo, possuidor que é de características virtuais iguais ao ser humano. Sem estas características, o Universo não poderia ter-se constituído como é.

Assim, concebido como relação, inferência ou condição, o Espírito é o Ícone primordial da realidade, Aquele que só pode ser intuído e captado de forma simbólica, não porque esteja longe de nós, mas justamente por ser o que sustenta nossa natureza mais íntima, sem, contudo, se confundir com ela. Constata-se,  assim, a imanência e a transcendência do Espírito  envolvendo todas as coisas numa atmosfera de misticismo e contemplação, como queria FÍLON de ALEXANDRIA (sec I AEC).

É, pois, em virtude da existência de um Espírito que constitui a natureza sutil do Universo que podemos participar, como seres conscientes, do milagre da criação, como detentores de uma parcela do Espírito Universal, o Logos que sustenta todas as coisas. O Espírito é luz, energia e acontecimento, sendo a melhor caracterização do que é o Ser.