Os clones: seus limites, suas esperanças

Os clones se dizem naturais ou artificiais. As clonagens naturais ocorrem comumente em espécies vegetais ou animais inferiores, por reprodução assexuada, dentro de um esquema regular de substituição das gerações. Também, nas espécies animais sexuadas, é comum o aparecimento de gêmeos (provenientes de um só ou vários óvulos). Já as clonagens artificiais são aquelas produzidas em laboratório, através da manipulação cromossômica das células, das quais resultam seres aparentemente semelhantes ou modificados.

Os processos de clonagem, como a reprodução do mesmo, cópia de um paradigma, estão inseridos igualmente no desejo intenso da similaridade, física, psicológica ou até mesmo espiritual, que todos nós acalentamos, desde o momento que passamos a perseguir um padrão de igualdade ou perfeição correspondente. Dessa forma, a clonagem só se justifica, se a imitação produzida puder ser melhor ou, pelo menos, igual ao protótipo utilizado.

A constatação recente de que a ovelha Dolly está com artrite não faz mais do que constatar o que todos nós já sabíamos : o fato de que, mesmo manipulados em laboratório, os processos de reprodução genética estão sujeitos às limitações ou acidentes ocasionais.

Não obstante, o que nos assusta é a produção (em escala ilimitada), de clones modificados, uma população inteira de seres ou pessoas com características adredemente preparadas. Tais perspectivas de ficção, presentes até então apenas em literatura fantástica, de repente tornam-se perfeitamente possíveis, demandando somente perguntar-se como encontrar meios para impedir-se tamanha bizarrice! (Os meios jurídicos estão aí para isso).

Por outro lado, temos que considerar o forte apelo da espiritualidade : é a unidade comum de nosso espírito alimentando um intenso desejo de imitar a Perfeição. Paradigma do melhor, nosso destino deverá ser um constante desafio de transformação, garantida pela confiabilidade do Modelo (Jo,3:35,36).

Todos nós, objetos ou viventes, somos clones (cópias) de uma idéia (Platão), sucedâneos limitados de algo que sempre nos ultrapassa. Esta idéia de cópia é a que mais se aproxima da aspiração ínsita em nosso espírito, que reconhece e dá mais valor ao modelo do que ao similar. Apesar da natureza aparentemente dialética e conflituosa de todos os fenômenos (Hegel), há, em todo o Universo, a prioridade reconhecida de que sob este aparente caos, há uma ordem a ser perseguida, um propósito a ser concretizado, um paradigma a ser realizado.

Somos criados diferentes, mas nossa aspiração maior será sempre constituir uma unidade de semelhança com a Origem Comum, tornada possível agora, não mediante manipulação genética, mas unicamente através do apelo atávico de nossa espiritualidade, que clama amor e unidade.