Metafísica e semântica

A palavra metafísica, que comumente se refere a algo além da física, na verdade consubstancia, segundo Aristóteles, uma escalada no mundo do conhecimento, que vai do concreto ao abstrato, do particular ao geral, dos sentidos para a inteligência, do a posteriori ao a priori.

Subjaz no âmago dessa concepção, a oposição entre o sujeito e o objeto de conhecimento, com vistas a constituir uma ciência nova, a ontologia, ou o conhecimento do ser enquanto ser, que permitirá a constituição de um mundo a se, autônomo e independente das condições subjetivas de nosso saber. A partir de então, ficam explicitadas as condições transcendentais e transcendentes da realidade.

Ora, podemos perceber que aqui aflora a aporia fundamental da metafísica, ou seja, o desejar dar às nossas condições subjetivas do saber, uma objetividade lógico-extensiva que seria a essência mesma da compreensão, como a realidade concreta da substância, dos universais, de Deus.

Dessa forma, pretendendo superar os problemas clássicos da metafísica sugeridos acima, autores recentes (Wittgenstein, Tarski, Frege, Tugendhat, entre outros), têm procurado encontrar o sustentáculo da realidade a partir de um novo paradigma, não mais aquele baseado na dicotomia sujeito/objeto, mas sim com fundamento na linguagem e nos seus processos de significação ou semântica, caracterizada como a disciplina que estuda as relações entre as expressões lingüísticas e o mundo sensível.

Por aí se vê as relações íntimas que há entre a semântica e a ontologia, restando apenas o problema de saber-se quem fundamenta quem, se a ontologia ou a semântica.

Segundo esta teoria, chamada analítica, o objeto só nos é acessível através da mediação do significado, obtido seja através da linguagem ordinária, seja através da linguagem formal, com a ressalva de que não se pode, stricto sensu, falar-se de representação natural sem o recurso a um ato de inteligência (o que a torna já desde o início formal!).

A linguagem ordinária trata da nomeação das coisas empíricas, dentro do que ocorre em nossas comunicações corriqueiras (daí a variedade e a ambigüidade de seus conteúdos intencionais). Já as linguagens formalizadas, se utilizando de processos simbólicos abstratos, cuidam principalmente da numeração dos objetos, dentro de um sistema formal de significação precisa, como ocorre na aritmética, na álgebra, na lógica, assegurando a máxima coerência na formulação de suas regras e preservando a unicidade de seus conteúdos sistêmico-extensionais.

Dentro dessa perspectiva semântica, pois, a essência do mundo ficará dependente das formas simbólicas usadas para representá-lo. Operacionalizando símbolos, o processo ontológico do universo ficará dependente dos níveis de significação e da intensidade dos significados que cada um de nós será capaz de alcançar, o que se constituirá numa graça especial de verdadeira revelação!