Deus, uma experiência singular

Como fontes de nossos conhecimentos, é costume identificar três formas ou dimensões na maneira de captarmos a realidade das coisas: uma dimensão obtida através de nossos cinco sentidos, o que nos permite perceber o mundo exterior; uma dimensão mental (racional ou quântica), produto do pensamento abstrato de nosso cérebro, fazendo surgir um mundo de ideias, conclusões racionais e evidências lógicas; e, finalmente, uma dimensão virtual, criativa e simbólica, fruto intuitivo da percepção espiritual e emotiva de nossa subjetividade.

Ora, quando se trata do conhecimento de Deus, muitas pessoas insistem em querer percebê-LO ao nível de nossos cinco sentidos, como um objeto ou pessoa que pudéssemos ver ou compartilhar de Sua Presença. Contudo, como essa presença parece ser restrita apenas aos místicos, santos ou videntes, as pessoas comuns também podem aceder a esse privilégio, dependendo apenas da intensidade de sua fé e graça recebidas.

Por outro lado, quando colocamos nossa razão ou pensamento lógico na tentativa de conhecer Deus, somos barrados pelos paradoxos existentes em nossas percepções sensíveis, o que acaba por inviabilizar as conclusões em sua coerência. O caso clássico são as cinco vias de São Tomás de Aquino, que procuram provar racionalmente a existência de Deus, mas que, pelos críticos, permanecem apenas no nível do discurso e das conclusões abstratas (KANT).

Dessa forma, precisamos compreender que a existência de Deus só pode ser apreendida por meios virtuais, envolvendo uma perspectiva holística ou de totalidade de nossas impressões sensíveis, racionais ou místicas, o que tem como implicação prévia pressupor a harmonia de nossa razão com a Natureza, síntese de sensibilidade, pensamento e arte, o que só é possível pela ação de nosso cérebro, o locus milagroso do surgimento de nosso espírito.

Ora, isto significa que quando se trata de perceber a existência de Deus como fonte ou realidade suprema, nenhuma das dimensões tomadas isoladamente preenche os requisitos exigidos pelas características multiformes que ELE possui, o que implica ultrapassar não apenas a dicotomia sujeito/objeto ou os limites da razão pura, mas principalmente o preconceito antropomórfico que tem impedido conceber Deus ínsito com nossas aspirações:

Assim, como puras disposições de fé, Deus assume os seguintes significados para nós:

  1. CRIADOR de todas as coisas
  2. Expressão de poder e vontade soberana (YAVEH)
  3. Revelação de Deus Pai, Amor e Perdão (JESUS CRISTO)
  4. Consolo e coragem para vencer dificuldades (ESPÍRITO PARÁCLITO)
  5. Encontro com a paz e a iluminação (VIVÊNCIA MÍSTICA)
  6. Implícito à ordem criada, independente de nossa existência (LOGOS ou VERDADE)
  7. OMBRO AMIGO, ou companheiro solícito em todos os momentos.

Em conclusão, podemos dizer que a experiência de Deus no coração do crente é algo que ultrapassa todos os condicionamentos naturais ou intelectuais, por ter origem divina, bastando apenas senti-LO em nosso íntimo, como aconteceu com Santo Agostinho: ‘Vós, porém, sois mais íntimo que o meu próprio íntimo e mais sublime que o ápice do meu ser‘ (Confissões, III, 6).