A trindade no ser

Nossa observação da realidade percebe diferentes estados de ser, que por certo guardam uma estreita relação de interdependência e correlação. Se aparentemente essas dimensões nos parecem estanques e contraditórias, é porque nos tem faltado uma visão mais profunda e abrangente de como a realidade contém em si mesma a sua própria justificação, a conciliação de tudo sob a perspectiva de momentos transcendentes.

Assim, vemos que o ser se expressa em três estágios diferenciados, três fases distintas, mas co-implicadas em sua dialeticidade: o que foi (passado), o que é (presente) e o que será (futuro), que não são dimensões sucessivas ou separadas, mas que se encontram atuando permanentemente em nossa experiência, nossos conhecimentos e em nossas ações e crenças.

Numa perspectiva de revelação, podemos dizer que o ser que já foi (passado) representa a perspectiva do Pai, o milagre da criação e do que já se realizou, mas que guarda uma íntima relação com o presente e o futuro. Pois o passado, além de ser o condicionante de nosso presente, tem tudo a ver com o futuro, na marcha inexorável da história do mundo. A liderança do Pai, representando o passado, nos mostra Sua intenção de se revelar, seja por acontecimentos ou testemunhos, inspirando místicos e profetas a falar sobre nosso destino transcendente.

No que se refere ao ser que é (presente), vamos relacioná-lo ao reino do Filho, o desafio da Natureza em sua luta permanente para atingir a perfeição. Pois tudo se resume num fracasso retumbante, se não for colimado pelo sacrifício divino de sua própria redenção. Assim, o reino do Filho é aquele do próprio Cristo histórico que manifestou Deus em Sua Pessoa e que, ao sofrer a morte por um crime que não cometeu, redimiu a Natureza e a Humanidade de todos os seus limites. Assim, cada ser que morre dá testemunho de seu aparente fracasso, mas só aparentemente, por ser o elo necessário de sua própria evolução, sob outras formas.

Finalmente, no que se refere ao ser que será (futuro), vemo-lo estreitamente relacionado à obra do Espírito, o apelo permanente na Natureza e em nossa alma para que façamos de tudo para que o projeto da criação não se frustre, pois está na mão da própria Humanidade a sua construção ou destruição. E o apelo do Espírito é o de que não tardemos em concretizar a paz para todos os povos, a humanização de todas as culturas e a salvação do meio-ambiente das ameaças constantes à sua destruição.

Em conclusão, podemos dizer que nada se frustra, pois tudo o que existe reflete a ação permanente dos três momentos da Trindade Criadora, o passado, o presente e o futuro, colocados diante de nós como um desafio à nossa compreensão, mas também como uma revelação para o aumento de nossa fé.