A compreensão do saber

Observa-se que, diferentemente dos animais, que agem movidos apenas por suas características biológicas, o ser humano atua na natureza de forma consciente, abstrata e simbólica, o que o torna criador de conhecimentos, teorias, mitos e crenças que ultrapassam os limites de suas contingências, sejam naturais ou biológicas, sejam históricas ou culturais.

A partir disso, importa reconhecer que o conhecimento adquirido pelo ser humano não é apenas o que ele depreende de sua atuação como agente de sobrevivência e trabalho, apesar de que, em princípio, isso possa de fato estar relacionado. O fato de ser considerado produto de seu tempo e de suas condições de vida é produto posterior inerente à crítica reflexiva e à cultura.

Ora, mesmo reconhecendo aquelas dependências, é fato constatado que o conhecimento humano possui características sui generis que, ultrapassando a mutabilidade constante das impressões individuais, se afirma estável, lógico e veraz, qualidades que o tornam transcendente e passível de ser aceito como consistente.

Eis então criado um novo campo de investigação e pesquisa, o mundo simbólico de nossas representações mentais, nossa ciência sistemática, nossas teorias e concepções de fé. Seu propósito é a procura recorrente das causas e princípios que tornam o ser humano isto que ele é: um ser biológico frágil e limitado, mas imensamente poderoso pelas suas ideias e pela sua capacidade de transformar a realidade em que se encontra imerso.

Dessa forma, constata-se uma interação permanente entre os fenômenos e o que pensamos deles e importa não entender isto de forma apenas aleatória, pois desde o início nossa mente trabalha a partir do que experimenta como sendo o seu fundamento natural, a concretude inteligível das coisas. Há, pois, uma reciprocidade natural entre nossas idéias e os símbolos por elas criados.

Ora, nossa capacidade de simbolizar a partir de nossas percepções sensíveis ou intelectuais só se torna possível, portanto, porque há em nós um princípio ativo que a provoca. Este princípio, reconhecido desde o tempo dos primeiros pensadores gregos chama-se Alma ou Espírito. Pois, como nos diz PLATÃO, no diálogo Sofista, 266c: ‘Eis, pois, as duas obras da produção divina: de um lado, a coisa em si mesma; e de outro, a imagem que acompanha cada coisa’.

Dar asas a inspirações inovadoras, eis o princípio fundamental que deve regular a vida do Espírito, este agora concebido como o paradigma que fundamenta toda nossa capacidade de conhecer. Dotado de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, o Espírito é pulsar constante em dialeticidade dinâmica. Ele está em tudo como força geradora do Acontecimento, do Futuro, e do Destino, orientando as vicissitudes da História.

Crer que haja um Espírito transcendente e imanente a todas as coisas, eis uma verdade que o ser humano não tem como negar, sob pena de tornar tudo sem sentido, sem lógica e coerência. Daí a Sua objetividade explícita, que deve se tornar objeto de mais interesse, pesquisas e reflexão.