RENÉ DESCARTES – O Discurso do Método

1) Primeira Parte: A Dúvida Metódica

– O bom senso é coisa bem partilhada entre os homens.

– Nossos erros não provêm de diferenças racionais, mas sim pela forma com que conduzimos nossa razão, “pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem”.

– Descartes se considera feliz por ter encontrado um método autêntico de descoberta da verdade.

– Contudo, não se dá por satisfeito, pois pode estar sendo enganado.

– Apesar de ter aprendido todo o conhecimento disponível em sua época, Descartes acha muito proveitoso o ato de viajar, que enriquece sobremaneira os nossos conhecimentos. Ele também aprecia muito a retórica e a poesia.

– Mas a sua maior admiração é pela matemática, pela certeza e evidência de suas demonstrações.

– Ele também reverencia a Teologia, e considera a fé uma graça de Deus, concedida por igual a sábios e ignorantes.

– Quanto à filosofia, a considera nobre mas eivada de controvérsias, o que não lhe assegura uma evidência mais segura.

– Quando jovem, desde cedo demonstra interesse em viajar, conhecer novos costumes, sempre avaliando tudo sob o prisma de sua consistência e de sua utilidade.

2) Segunda Parte: A descoberta do método

– Estando em visita à Alemanha, ficou isolado numa sala de Quartel, quando então intuiu os quatro preceitos fundamentais do método:

1º) Jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.

2º) Dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quanto possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.

3º) Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.

4º) Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.

– O método deve tomar corpo a partir do reconhecimento da concatenação dos conhecimentos, sendo o anterior condição da verdade do posterior.

– São as ciências matemáticas que nos asseguram as demonstrações mais evidentes e é por elas que devemos começar.

– A concepção generalizada da correlação de todas as coisas se chama mathesis universalis ou perspectiva do mecanismo universal que move todas as coisas.

– Não obstante, será necessário recorrer aos diversos princípios da filosofia, para poder discorrer sobre ela (a mathesis). Descartes reconhece que não está preparado para isso, por ser muito jovem (23 anos).

3) Terceira Parte: A moral provisória

Essencial para a continuidade da vida, enquanto se põe em dúvida provisória a verdade da ciência:

– Obedecer às leis e aos costumes de meu país, retendo constantemente a religião em que Deus me concedeu a graça de ser instruído desde a infância, e governando-me, em tudo o mais, segundo as opiniões mais moderadas seguidas por aqueles próximos ao meu convívio.

– Não agir quando sentir que há dúvidas quanto aos resultados que obterei com os meus atos e se essa seria a melhor opção.

– Procurar sempre antes vencer a mim próprio do que os estímulos, modificando-os em meu benefício, mesmo que, no final, me sinta incapaz de alterá-los.

– Por fim, deliberei passar em revista as diversas ocupações que os homens exercem nesta vida, para escolher a melhor.

4) Quarta Parte: A obtenção da Verdade

– Face à dúvida geral, só uma certeza que é primeira diante de todas as demais: eu penso, logo existo (cogito, ergo sum).

– A constância do meu eu face a mutabilidade de tudo levou Descartes a considerar a alma como separada inteiramente do corpo (dualismo).

– Assim, tudo que concebemos mui clara e distintamente é verdadeiro, havendo apenas alguma dificuldade em notar bem quis são as que concebemos distintamente.

– Da análise da perfeição imperfeita que existe em tudo, Descartes pôde concluir pela suposição da existência de um SER PERFEITO, Causa de Si Mesmo, Deus, como condição do menos que só pode ter origem num mais.

– É a elevação da mente acima dos sentidos que permite chegar a esta conclusão, por ser puramente racional.

– Deus é a garantia de não há um gênio maligno a nos enganar, como se tudo fosse um sonho.