Viver é conquistar

A contemplação do espetáculo da Natureza, criando e destruindo a vida de forma tão intensa, nos leva imediatamente a pensar se tal situação seria apenas uma rotina macabra ou se, por traz dessa luta fratricida, não é possível detectar um propósito, uma ideia diretriz de finalidade.

Pois, pode-se observar, desde sua origem, que o fenômeno da vida se encontra imiscuído com sua própria destruição, ao ter de sacrificar outros seres, se quiser sobreviver, dando-nos a aparência de que a Natureza seria apenas o desenrolar de uma aventura suicida e inútil!

Não obstante, é possível observarmos que quem sente a destruição, sente também um background de oposição e luta, um processo de afirmação e de conquista, que se, no mundo animal, são obtidos através da violência e da agressão autofágica, no mundo humano, ao contrário, tratar-se-ia de superar todas as formas violentas ou predatórias de conquista, que, por força de nossa inteligência e espiritualidade, nos são sugeridas através de meios pacíficos e fraternos, como convém a uma humanidade civilizada.

Apesar de que nossa cultura ocidental tem privilegiado conquistas no campo econômico e político à custa da fraqueza dos concorrentes, isto se agrava pela disseminação  de um processo pedagógico que incentiva o sucesso profissional a qualquer preço, dando margem a formas de competição e exploração individuais e coletivas, que se constituem em sérios obstáculos à afirmação da humanidade como um todo de cooperação, harmonia e mútua dependência.

Por outro lado, não podemos elidir o fato de que temos de superar a aparente vitória da morte, o limite insuperável do fracasso de nossas conquistas, se não formos capazes de dar um salto quântico na qualidade de nossas conquistas e lutas, transformando-as em propósitos de valorização e afirmação de nossa espiritualidade, o destino natural do ser humano em seu futuro.

É, portanto, apenas nesse sentido que podemos ser otimistas, face às aparentes destruições que o ser humano impõe-se a si mesmo, ao desprezar o que tem em si de mais valioso, o caráter e os propósitos de sermos cidadãos não apenas preocupados com as conquistas materiais, mas sim estando voltados para a construção de uma cultura que dê mais sentido à vida humana.

Ninguém levará conquistas materiais para além da morte, a não ser o bem que possa ter praticado, a herança memorável de uma vida que fez esforços para melhorar as condições de convivência e felicidade para o maior número de pessoas.

Ora, isto poderá significar a conquista como um propósito de renúncia, a satisfação íntima de sentir-se instrumento de felicidade para outros, como nos legou o exemplo memorável do próprio Cristo, Mestre e Salvador da humanidade.