Universo e virtualidade espiritual

Podemos verificar, a contragosto, que o mundo que nos cerca compõe-se essencialmente de acontecimentos virtuais que são momentâneos, evanescentes, criativos, inovadores, simbólicos e fugidios, numa sucessão avassaladora de impressões e imagens, tornando frustrantes nossos desejos de estabilidade.

Ora, gostemos ou não, a consistência profunda do Universo é ser virtual, extemporânea, comportando diferentes interpretações e oposta aos nossos desejos de encontrar o estável, demonstrando um paradoxo de difícil superação, pela forma com que nosso espírito desejaria que fosse (imutável, perfeita e ausente de transformações).

Assim, nossa própria existência é um momento fugidio na eternidade, um estar presente/ ausente que se alternam de uma forma inexorável, tendo como única saída uma abertura às dimensões da fé, na qual procuramos encontrar uma solução compatível com nossas aspirações de eternidade. Ora, o virtual, momentâneo em sua eclosão, pode também ser assumido como expressão de permanência, no instante mesmo em que se manifesta, sobrepondo-se ao espaço e ao tempo!

Ora, esta correlação é importante para nos revelar a natureza psíquica do Universo, que visto numa perspectiva apenas material, como querem os cientistas ‘iluminados’, não é capaz de nos dar as respostas das questões insolúveis que a própria ciência denuncia: criado. eterno, evolutivo, cíclico?

Assim, como conclusão, pela lógica de nossa razão, somos capazes de concluir que existe uma Fonte Permanente que sustenta a virtualidade de tudo o que ocorre, pois sem esse milagre o processo não se sustentaria, pela complexidade das forças que nele estão implicadas, de caos para cosmos.

Ora, esta foi a intuição do poeta, que assim concluiu:

Percamos a ilusão
De pensar que as coisas são
Objetos em sua essência
Ou concretos na consistência

Pois o Universo é virtual
Instável e irreal
Energia em eclosão
De fugaz apreensão

Só uma Fonte permanece
Condição do que aparece
Permitindo o surgimento
Do milagre do momento