Terrorismo e regimes de terror

Como instrumento de ação política, o terrorismo representa o estilo mais sorrateiro e o mais perverso nas lutas de enfrentamento pelo poder. Presente na história da humanidade desde os seus primórdios, tem o terrorismo adquirido em tempos recentes uma importância cada vez mais acentuada, fruto do agravamento dos contrastes culturais e das tensões políticas, agravadas pelo processo intenso de globalização.

Há necessidade de que seja feita a distinção entre práticas terroristas, geralmente perpetradas por pessoas isoladas ou em grupo, com vistas a interferir na estabilidade física ou política de uma sociedade, dos chamados regimes de terror, que são aqueles governos nos quais constante ou aleatoriamente são utilizadas práticas políticas temerárias, destinadas a mantê-los no poder, temendo o risco de perdê-lo.

Maquiavel, nos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, já reconhecia que a manutenção do poder político passa por certas ações de terror, coisa que Marx também considerava tolerável. Não obstante, como sabemos, a evolução política do Ocidente tem feito uma clara opção pela repulsa veemente a qualquer tentativa de manipulação odiosa às formas democráticas do exercício do poder.

Não obstante, representa a democracia um regime político inteiramente livre de práticas políticas odiosas? Longe disso, pois se torna necessário que a prática da tolerância e da transparência não se vejam implicadas com o silêncio inconfessável. Contudo, pelo menos, a democracia é o único regime que permite a denúncia de sua própria perversão, o que já significa muito.

Contudo, dentre as inúmeras causas de surgimento de atos terroristas (opressão, perseguição, ditadura, exploração, colonialismo), nos deparamos hoje com uma forma inusitada de justificação, aquela baseada na crença religiosa. No entanto, fazer de uma forma de crer em Deus a justificativa para a prática do terrorismo, sob qualquer de suas formas, nos parece ser o clímax a que pode atingir a confusão entre o bem e o mal, pois é claro que perante Deus não pode haver nenhuma forma de tolerância com a prática da violência, ainda mais contra pessoas inocentes.

Dessa forma, quais seriam as estratégias para eliminarmos de vez o fanatismo religioso e político? Cremos que tal só se tornará possível pela prática da democracia, fonte inspiradora da tolerância religiosa e do pluralismo político.

Portanto, o que se faz necessário, no momento, é o despertar de uma cruzada cultural que afaste o maniqueísmo do bem contra o mal, de uns que estão certos contra outros que estão errados, a partir do reconhecimento comum de alguns princípios fundamentais, patrocinados por uma ONU restaurada:

1) eliminação da idéia de povos que são inimigos
2) eliminação das guerras em todas as suas formas
3) afastamento da religião como critério de ação política
4) instalação de regimes democráticos em todos os países

Se a religião tiver que influenciar a política, que seja apenas para concitar as pessoas e as nações de que Deus é princípio do bem, da tolerância e da justiça, e que ele não está disponível a ninguém que queira praticar o mal em seu nome!