Reflexões sobre processos miméticos

A cultura grega nos legou os conceitos de mímesis e poiesis, o primeiro referente aos processos de imitação e o segundo como formas de criação relativamente incondicionadas, como ocorre na poesia e nas intuições conceituais, aparentemente inovadoras. Digo aparentemente porque, no final, ambas se nos apresentam dependentes das influências que as antecedem (sic).

Na continuidade, verifica-se que os processos miméticos estão, preliminarmente, no mundo da Natureza, tendo sido posteriormente verificados no mundo da cultura. No tocante aos mimetismos naturais, observa-se que animais e plantas, mesmo sendo de diferentes  espécies, manifestam semelhanças diferenciadas em suas  formas de expressão, relacionadas seja a detalhes de contornos, cores e destaques, comuns em borboletas, cobras e invertebrados,  visando sua defesa contra predadores, como ocorre comumente entre aranhas, doninhas e outros insetos, como o bicho-folha.

Já no mundo da cultura, o mimetismo está presente em todas as suas formas de expressão, pois as manifestações culturais dependem seja da linguagem, da história ou de nossa antropologia evolutiva, condicionando os fenômenos sociais, a filosofia, religião ou a política em suas transformações, como bem expressou RENÉ GISCARD (1923-2015). Daí os limites que necessitam ser impostos a todas nossas afirmações culturais, um condicionamento inelutável em sua desenvoltura.

Seja no campo da moda, nas redes sociais ou nas teorias, a evolução e os processos de sua afirmação são todos regulados por influências miméticas, bastando verificar suas consequências, influindo comportamentos favoráveis ou danosos ao convívio social. O incremento da violência tem sido um fator grave a perturbar o relacionamento entre as pessoas, provocando uma degeneração acelerada em sua integração, tornando a vida moderna um risco permanente entre gangs organizadas.

No campo da política, a corrupção tem sido um fenômeno mimético altamente prejudicial às conquistas sociais, mantendo um quadro permanente de subdesenvolvimento e exclusão social, em benefício de poucos, aqueles que têm acesso aos negócios públicos.   Dessa forma, importa que tenhamos sempre uma atitude crítica em relação a todas essas manifestações culturais, que refletem por isso sempre uma condição relativa, tornando-se desdobramentos de antecedentes prévios, seja por influências miméticas desfavoráveis, seja em virtude de paradigmas nefastos criados pela evolução da cultura.

Assim, uma epistemologia mimética nos sugerirá sempre atitudes de moderação e comedimento em nossas afirmações, crenças ou teorias, nos incentivando a examinar tudo de forma a sempre termos de avaliar suas consequências favoráveis ou danosas ao equilíbrio geral da sociedade, uma atitude nem sempre presente entre nós, humanos.

Dessa forma, será sempre possível extrair as melhores ou as piores consequências dos processos miméticos, que devem ser motivos de transformação inovadora, superando assim, sua recorrência quase sempre negativa, pela hegemonia do mal sobre o bem? Eis, pois, em que consiste a luta humana para superar seus atavismos miméticos, como aconteceu com o sacrifício de Cristo, o poder do não poder, um paradoxo que sintetiza bem a aventura da redenção humana.