Realismo mágico entre o nascer e o morrer

Nossa maneira reiterada de considerar o tempo e o espaço como absolutos, ao modo de ISAAC NEWTON ou de nosso senso comum, leva-nos ao costume corriqueiro de pensar o nascer e o morrer como acontecimentos localizados, como vemos em nossas certidões de nascimento ou nos obituários dos jornais.

Não obstante, a partir da consideração do tempo e do espaço como relativos (EINSTEIN), sem contornos fixos, importa que aprendamos a considerar nosso nascimento ou nossa morte de uma forma diferente, como fatos virtuais, restritos apenas aos sentimentos que deles temos ou aos momentos em que deles nos conscientizamos.

Em assim sendo, podemos dizer que nascemos novamente a cada manhã, bem como morremos um pouquinho a cada dia que passa, pois assim como o viver se faz presente a cada novo despertar, o morrer se antecipa a cada novo adormecer!

Ora, tal reconhecimento deveria verdadeiramente revolucionar nossas formas de considerar ambos os fenômenos, identificando neles as virtualidades inerentes aos seus pretensos realismos, transformando nossos hábitos comuns ao dimensiona-los. Assim, nascer significa muito mais do que apenas ter sido expelido do ventre de nossas mães, assim como morrer não significa o fim definitivo da vida, pois constatada entre eles esta mútua correlação, somos levados a supor que após a morte definitiva, a vida surgirá de uma forma transformada, agora integrada numa realidade pan-cósmica, ou seja, às fontes originárias de onde tudo surge.

Em consonância, inspirados pelo realismo mágico que constatamos entre o viver e o morrer, importa tirarmos as verdadeiras consequências de suas características simbólicas, tendo em vista nossa melhor compreensão do que eles devem significar para nós. Assim, o viver deverá ser considerado como momento privilegiado através do qual passamos a testemunhar a grandeza da criação, agradecendo-a, assim como o desafio de corresponder nossos atos às exigências de nosso destino.

O mesmo com relação ao morrer, cuja aparência do desaparecimento terreno de nosso corpo nos leve a pensar na ocorrência de uma transformação de substância, transcendente, como a ocorrida com o corpo do Cristo ressuscitado, nosso irmão em humanidade e Deus-Filho por sua divindade. Aqui, só uma abertura para a fé pode suprir nossas carências de compreensão, ou seja, como assegurar também, desde já, a espiritualidade de nosso corpo mortal. Ora, se estamos a morrer um pouco a cada dia, nossa imortalidade já está assegurada pela prática das virtudes inspiradas pelo Cristo, como primícias, dentro das perspectivas de ocasião e história que forem delineadas pelo transcorrer de nossas vidas.

Finalmente, outro testemunho a ser destacado em favor de nossa imortalidade é o da assunção de Nª Srª ao céu, em corpo e alma, como declara a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, de 1950, onde está expressa “a esperança de que a fé na Assunção corporal de Maria ao céu possa tornar mais forte e mais ativa a fé em nossa própria ressurreição”.

É dessa forma que o realismo mágico inerente ao nosso nascer e morrer, só através da fé encontra a sua real dimensionalidade.