Por que não sou agnóstico

A palavra agnóstico diz respeito a nossa capacidade de conhecer (gnose), a convicção da impossibilidade de atingir o que seja a verdade ou a consistência final das coisas. Esta é uma atitude que tem sido muito comum entre filósofos e cientistas que concluem pela incapacidade, a partir da ciência, de alcançar qualquer razão transcendente. Trata-se, pois, de uma forma extremada de ceticismo.

Isto não obstante, resulta claro que a atitude agnóstica é produto da confusão que se faz entre conhecimento científico (experimental) e conhecimento filosófico (abstrato), que são bastante distintos em sua metodologia. Ora, é evidente que as indagações últimas sobre a natureza do Universo e as teorias finais que a explicam não estão no nível da ciência, pelas próprias características limitadas da metodologia científica por um lado, e pela natureza metafísica das asserções filosóficas, pelo outro.

Assim, somos obrigados a alcançar outros patamares de significação, a partir de alguns sinais que os fenômenos nos oferecem, se quisermos alcançar os níveis simbólicos, virtuais e abstratos que nossa mente exige para dar consistência a uma descrição final de tudo que observamos.

Para tanto, em primeiro lugar, temos que aceitar a evidência da prioridade da inteligência sobre nossas sensações, sem a qual seria impossível a confabulação de qualquer trabalho teórico (PLATÃO, DESCARTES). Em segundo lugar, concordar que este trabalho teórico é, em sua natureza, abstrato e simbólico, o que implica reconhecer a natureza ‘espiritual’ de nossa atividade psíquica.

Em seguida, importará aceitar a dimensão metafísica de nosso saber como natural e fruto de uma criatividade espontânea, o que não dispensa uma análise crítica a respeito de sua consistência. No entanto, esta análise crítica não pode ser apenas aquela relacionada com sua dependência ao mundo exterior, como erradamente propôs KANT, mas principalmente deverá envolver outras dimensões, não apenas heurística, mas principalmente de aceitação e envolvimento extático.

Ora, estamos, pois, diante de uma realidade sui generis, o surgimento de uma dimensão transcendente que não tem qualquer resquício de materialidade, mas que habita o mais íntimo de nosso ser. O fato de ser um mundo simbólico não lhe retira nada de sua consistência; muito pelo contrário, abre a experiência humana para as dimensões do mistério e da fé, da imaginação e da esperança.

Partimos da intuição primária de que se há algo que existe de forma contingente, precária, há que se demandar algo necessário para justificar sua ocorrência. E, como disse ARISTÓTELES, na ordem das causas não cabe regredir ao infinito, sob pena de não explicarmos nada. Confundir a precedência de causas com a sua simultaneidade (ou complexidade), apenas demonstra a confusão que fazem os cientistas entre ciência e filosofia! Pois aqui a evidência não é experimental, mas é de natureza lógica.

Uma outra indicação de que há algo diferente  a sustentar a ordem criada é a ocorrência, em nossa psique, da consciência dos valores (o bem, o mal, a felicidade, a justiça, etc), impondo uma perspectiva de luta pela perfeição da qual, no Universo, só o ser humano é capaz. Ora, tais sentidos impostos à nossa vida não são produto apenas de nossos humores, mas demonstram a existência de uma outra realidade, valorativa, em conflito com a sua materialidade.

Crer é, portanto, uma necessidade intrínseca à nossa própria natureza, e cuja consistência abstrata apenas denuncia suas origens espirituais, o resultado de uma inspiração cuja origem não é nem a matéria nem os nossos impulsos subjetivos, mas resultam de convicções lógicas que são impostas a nós.