Por que não podemos deixar de crer

A crença não é uma opção que dependa só de nossa vontade, pois que encontramos, na Natureza e em nós mesmos, indícios suficientes que a legitimam como uma característica básica de nosso espírito, oferecendo-se a nós como uma graça diferencial. Dispensar a crença por orgulho ou preconceito é uma atitude sintomática de incoerência existencial, motivada por condições culturais distorcidas, ateias, frutos de um orgulho teimoso, que não mais se justifica.

Com DESCARTES, cremos que o ser humano é uma criatura sui generis, por ser dotado de capacidade racional, e por meio dela pretender uma compreensão total do mundo criado. Com PASCAL, no entanto, temos que nos conscientizar quanto aos limites de nossa razão e em companhia de PLATÃO, cremos captar as formas dos objetos sensíveis de maneira abstrata, como ideias perenes e intemporais. Isto garante a sua existência num mundo virtual, etéreo, acima do tempo e do espaço, o mesmo valendo para as pessoas, que assim nunca morrem, permanecendo imortais por meio de sua ipseidade, imagem e semelhança de Deus (Gn, I,27).

Não obstante, analisando os conhecimentos científicos atuais, obtidos em pesquisas de alta complexidade, ficamos sabendo que o Universo aparentemente não tem em si as razões de sua própria existência, pois que reduzido a micropartículas em constante vibração, de forma apenas mecânica, são, no entanto, dotadas de transformação quântica, que de tão espetaculares, parecem verdadeiros milagres, surgidos a partir de suas meras probabilidades. Assim, na esteira de MONTAIGNE, temos que reconhecer a necessidade de assumir um ceticismo metodológico, que, por sua vez, dá origem e a que aumentemos nossa fé na dependência do Universo a Algo Transcendente.

Por outro lado, com ARISTÓTELES, mesmo reconhecendo nossas limitações, cremos poder atingir verdades consistentes, através de uma visão progressiva da racionalidade, até atingir verdades que se impõem a nós. Neste caso, nosso conhecimento se completa na crença de um conduzindo a evolução, sem o qual não teríamos um cosmos, mas apenas o caos.

No aspecto existencial, sentimos um grande descompasso entre nossas expectativas e o que a vida realmente nos oferece, assinalando uma forte dose de frustração. Sendo o único animal que não se conforma diante das condições adversas impostas pela Natureza, somos dotados igualmente de inteligência suficiente para compreendê-las e entender que a existência é um processo aleatório de manifestação do eu, mas que traz em si a semente de sua própria perenidade.

Nesse mesmo sentido, acolhendo a opinião de SANTO TOMÁS DE AQUINO, a suposta autonomia do Universo criado não dispensa a perspectiva de sua redenção, obtida pelo sacrifício de JESUS CRISTO, elevado à categoria de Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, conforme consta dos dogmas revelados. Em complemento, com SANTO AGOSTINHO, cremos na revelação íntima de Deus no coração humano, um sentimento puro de Presença que é força e predisposição para a prática das virtudes necessárias para que as pessoas atinjam a felicidade.

É por isso que o homem moderno, mesmo cercado de tecnologia e autossuficiência material não pode dispensar as práticas espirituais e religiosas, como requisitos fundamentais para completar sua plena realização nesta vida.