Poesia mística

NO VAZIO DO MEU SER
SINTO DEUS APARECER
COMO LUZ NO AMANHECER
É MILAGRE DE PURO RENASCER

O místico ou o poeta, mais que o filósofo, é aquele que consegue alcançar os mistérios que envolvem os arcanos da criação, por não estar preso aos limites estreitos da racionalidade que impõe limites à investigação filosófica, permitindo o acesso franqueado a todos os aspectos, claros ou obscuros, que envolvem a realidade criada.

E a primeira constatação do místico é reconhecer como somos vazios em nossa existência corporal, que sofre inúmeros obstáculos, fazendo do ser humano um animal profundamente carente. Tais apelos são os primeiros sinais de nossa origem espiritual, superior e diferente de tudo que possa existir.

Ora, tal carência existencial só pode ser preenchida pela presença de um Espírito Superior em nossa alma, o que se obtém pela meditação  e pelas orações de consciência, o desejo intenso de se fundir com a divindade, o caminho seguido por Buda ou por Cristo, como também por tantos iluminados.

É assim que a presença da Divindade é como o sentir profundo de um acontecimento fora de nossas limitações sensíveis, algo como a transformação da noite para o dia, o inesperado de um acontecimento cósmico que é milagroso por sua naturalidade. Deus irrompe no clamor de nosso silêncio, transformando nossas dúvidas em certeza experimental.

Jamais o poeta ou o místico e muito menos o filósofo saberão transmitir o que significa ter a experiência da presença direta da Divindade, obtida pelo anacoreta a partir do vazio meditativo de seu silêncio, um nada que é compreensão profunda de todos os mistérios, desde o surgimento precário da existência até a descoberta do Ens Absconditum, como diria Santo Tomás de Aquino.

Como consequência, o poeta fica, cada vez mais, com a convicção de que o existir é um milagre dado a cada um de nós de forma aleatória, convicção que se reforça em cada momento em que ele se dedica à meditação, como se fosse o raiar de um novo dia, uma graça oferecida a ele de forma privilegiada.

O renascer é uma experiência corriqueira na fragilidade de nosso existir, algo que o poeta sente mais que as pessoas comuns, o que acaba por transformá-los em avatares de um novo ser humano, ainda raro entre os integrantes atuais da humanidade. Este novo ser humano terá como modelo vivo a figura de Cristo, que antecipou, para o futuro, como a humanidade deverá ser, em bondade e ação moral.

Há que ter paciência com relação à evolução lenta dessas qualidades que a humanidade do futuro irá alcançar, o que nos obriga, desde agora, sermos fiéis aos compromissos de nosso existir, cujo verdadeiro sentido é transcendente, voltado cada vez mais para as perspectivas sobrenaturais de nosso ser.