Os símbolos como operadores hermenêuticos

Chamamos de operadores hermenêuticos a todas as formas de relações ou alegorias de que se utiliza a nossa criatividade para estabelecer um nexo, seja explicativo ou compreensivo, da realidade complexa que nos cerca.

Os operadores hermenêuticos alimentam os processos de interpretação, que são, evidentemente, diferentes para cada tipo de realidade dentro da qual se queira estabelecer relações, seja de causalidade, justaposição, reciprocidade ou valoração.

Dessa forma, podemos constatar que os operadores hermenêuticos atuam através de formas e objetos simbólicos. Os símbolos, ou etimologicamente pedaços ou partes afins que se encaixam (do grego simballein = reunir), a partir de um grau maior ou menor de similitude significativa. Sob a forma de representações, os símbolos expressam, portanto, relações mais ou menos arbitrárias entre dois conceitos ou objetos.

Assim, estabelecer que a cruz é o símbolo do cristianismo ou que o sinal vermelho significa “proibido ultrapassar”, expressa bem os índices de maior ou menor arbitrariedade nas relações de dependência entre o significante e o significado.

Na riqueza ou variedade das formas e objetos simbólicos atuando como operadores hermenêuticos, podemos distinguir os seguintes tipos principais de símbolos: imagéticos, lingüísticos, cerimoniais, éticos e estéticos.

Os símbolos imagéticos são aqueles familiares aos nossos mitos e utopias. De natureza individual ou coletiva, eles alimentam as nossas esperanças e os nossos sonhos, inspirando a concretização de acalentadas utopias. Felicidade, paz, justiça social, igualdade, paraísos terrestres ou celestes, são algumas das inúmeras manifestações destes notáveis impulsos de transformação da realidade.

Os símbolos lingüísticos caracterizam o ser humano como homo loqüens, ser falante e literário. A correlação dos signos lingüísticos entre si chama-se sintática; dos mesmos com os objetos, semântica; e, como indutores do comportamento, pragmática.

Os símbolos cerimoniosos ou gestuais constituem igualmente um expressivo e importante campo simbólico. Presentes na experiência humana desde as culturas mais primitivas, as cerimônias são procedidas solenemente, com vistas a atingir o poder simbólico de transformação das realidades, criando outras.

Os símbolos éticos, por sua vez, motivam o nosso comportamento e as nossas ações, sempre atraídos pela idéia do bem, pois, mesmo quem pratica o mal, o faz julgando ser um bem para si. Isto não obstante, tudo deve ser feito para que cada um possa desenvolver uma simbologia ética cada vez mais sublimada pelo desinteresse pessoal e pelo desprendimento.

Finalmente, os símbolos estéticos expressam a categoria mais divina de nossa espiritualidade. Captando a beleza imanente em todos os fenômenos, a arte to-ma-se a visão mais próxima da Divindade. Seu ideal é o da perfeição.

Em conclusão, como se vê, os símbolos marcam de forma ontológica o nosso tradicional conceito de “realidade”, fazendo-a sair do nível primitivo de uma pretensa objetividade sensível, para o onírico da percepção virtual.