Os opostos se complementam

Quando o hagiógrafo colocou no início do livro do Gênesis ‘No princípio criou Deus o céu e a terra’, nossa curiosidade é logo dirigida a perguntar sobre o que existia antes. A ideia induzida é a do nada, que de fato não tem nenhuma consistência, pelo fato de que o nada nunca é, pois se fosse, nada teria sido. Dessa forma, a ideia do nada, contrario sensu, supõe a condição da existência de um Tudo Inicial que a sustenta.

A ideia do Tudo é aquela de uma globalidade holística, um universo no qual as diferenças  se sustentam a partir da Unidade que as relaciona. Aqui, causa e produto se auto-implicam, pulsando em interações quânticas, que no transcurso do tempo, se tornam sempre inovadoras. O Tudo é assim uma atitude complementar ao nada, a percepção de que há uma mútua implicação em todas as aparentes contradições que permeiam nossa realidade.

Isto implica em ter da criação uma ideia que supere os momentos do  tempo, a ideia de um aqui e agora que é um fiat eterno. No Princípio é então um conceito simbólico, que reconhece o milagre permanente de sustentação de tudo o que é.

Assim, o nada constitui apenas uma face irreal do ser, em virtude da extemporaneidade fenomênica que condena tudo o que aparece. Não obstante, temos a fé para nos garantir que há um Princípio de Sustentação que mantém a ordem em vez do caos, senão não estaríamos nem aqui. E temos, na fé cristã, a presença e a graça de Deus que se fez homem, para nos mostrar que o seu aparente fracasso é uma retumbante vitória, o exemplo de que as contrariedades fazem parte dos planos de nossa redenção.

A frustração//vitória de Cristo deve ser a medida de nossa confiança em Seu amor por tudo que criou, como resgate do nada aparente que envolve toda a criação.

Em conclusão, a aceitação de nossas dores e de nossa finitude só se supera na medida em que alimentemos nossa fé no Cristo que venceu a morte.