Os efeitos quânticos expressam latência espiritual

Chamamos de efeitos quânticos àqueles surgentes  pela transformação miraculosa das coisas, como a presença  do perfume nas flores, o som no barulho das águas, as noções éticas do bem e do mal, os milagres a partir da fé, a luz que se dissemina no ar, o pensamento a partir de nosso cérebro, 0 fenômeno do amor, etc.

Os efeitos quânticos no macrocosmo são um forte indício de que há uma similitude básica entre o mundo atômico e aquele de nossas percepções sensíveis, uma verossimilhança só possível por suas identidades comuns. Este fator básico de integração podemos chamá-lo de autoconsciência, que molda a realidade total de forma semelhante às nossas percepções, como podemos verificar:

  • a realidade, produto de nosso conhecimento
  • a procura insistente pela racionalidade e coerência das coisas
  • a dinâmica dos processos transformativos, submissos ao tempo
  • o caráter fugaz  dos fenômenos  no  micro ou no  macrocosmo
  • o critério relativista dos sentimentos, as noções de bem e de mal
  • as incertezas provocadas pelo nosso arbítrio.

Chama-nos a atenção, no macrocosmo, a  rica proliferação de novidades fenomenais, surgindo e desaparecendo numa recíproca instantaneidade. Igualmente, o fato de que tudo no Universo só adquire sentido pelo conhecimento, a mente humana descobrindo a consistência das coisas. Em complemento, tudo está prenhe de valor, um sentimento do bem e do mal que afeta tudo o que ocorre. E, finalmente, verificamos que tudo poderia não ter ocorrido, o que pressupõe um forte sentido de aleatoriedade ou incerteza. Nosso sentimento de liberdade é efeito quântico dessa situação.

De acordo com o que exprimiu o cientista americano DAVID BOHM, “Em certo sentido, o homem é um microcosmo do Universo: aquilo que é o homem, portanto, é uma pista para o Universo. Estamos embrulhados no Universo” (apud 50 Ideias de Física Quântica, de JOANNE BAKER. SP, Ed Planeta, 2015, p.162).

Esta autoconsciência pode ser entendida ora como uma capacidade subjetiva, tipicamente humana, ora como uma manifestação inerente ao Todo do Universo, como fez HEGEL em sua filosofia dialética. Possuindo características virtuais e de natureza simbólica, a autoconsciência  tem muito de semelhança com os efeitos quânticos que atingem o macrocosmo, um reflexo natural de correspondência recíproca. Dessa forma, as manifestações autoconscientes abrangem a totalidade do Universo, caracterizado por probabilidades e incertezas, mas nem por isso menos reais em seus efeitos, aparentemente extraordinários (Cfr. AMIT GOSWAMI, O Universo Autoconsciente. SP, Ed Aleph, 2008).

Sem dúvida, o Universo não seria o que é sem a presença de uma sintonia fina que pudesse organizar o caos e as probabilidades que vigoram no mundo das pequenas partículas, conforme vêm  constatando os cientistas, desde o início da modernidade e que puderam sustentar a transformação das sucessivas etapas que implicaram em  seu surgimento. De fato, tudo só possui consistência pela hipótese de uma força espiritual que pudesse dar justificativa ao Universo como ele é, através das quatro características principais que consubstanciam nosso espírito, a criatividade, a racionalidade, o sentimento e a liberdade.

Contudo, a presença dessa espiritualidade é virtual, só sendo constatada através de um salto quântico de aceitação, que supere a dicotomia perversa entre os mundos micro e macrocósmico, este completamente diferente do que constitui o Universo em seu nascedouro.