Onde está o espírito?

O lugar do espírito não é um ponto físico-espacial, mas é a identidade simbólica de algo extraordinário, uma fonte de luz que tira todas as coisas das trevas do nada, um salto quântico que aponta para uma realidade única, transcendente, que está em tudo e em todos os lugares.

Onde está o espírito? O espírito está onde quer que haja energia, vida, transformação. O espírito está onde quer que haja pensamento, reflexão, auto-consciência. A pergunta pelo lugar do espírito envolve também as maneiras pelas quais ele pode ser identificado, pois, onde o localizarmos, aí estará presente também um dos muitos modos de sua natureza, de sua expressão, de seu ser.

O ser humano, dentre os seres naturais, é o único que possui o privilégio de tomar consciência desse princípio universal de todas as coisas. Pois é só por meio de sua capacidade mental que todas as coisas se afirmam em sua existência. Não obstante, o conhecimento do espírito, apesar de ser apodítico (claro em si mesmo), não se processa através da relação sujeito/objeto, mas demanda um esforço de inteligência, uma apercepção sintética, uma intuição de algo que é prius ou causa essendi de tudo.

Um primeiro sinal do espírito é a nossa racionalidade. Num mundo cercado por diferentes fenômenos e impressões, fica-nos sempre a exigência de procurar a coerência e a intencionalidade do todo. A palavra latina ratio significa razão, conhecimento, inteligência, visão da essência, capacidade de estruturar sistemas, dedução lógica etc.

Um segundo sinal do espírito é a nossa enorme capacidade criativa. Dotados que somos de um notável poder de inovação, tal só se faz possível pela qualidade especial de nosso ser, que expressa com isto uma diferença específica, o salto quântico do novo.

Um terceiro sinal do espírito é a nossa emotividade, o império do querer sobre a razão, o pressuposto da vontade que nos domina. Pelo ímpeto de seu coração, o ser humano cria os valores, luta por eles, acrescenta motivos e engrandece o seu viver.

Podemos encontrar um quarto sinal do espírito em nós, quando fazemos uso de nossa liberdade. Mesmo relativa e condicionada, somos livres toda vez que fazemos uma escolha, contrariando os determinismos naturais. O exercício judicioso de nossa liberdade forja o nosso destino, engrandece nossos atos e aponta para o sentido de nossas responsabilidades.

“Há algo de misterioso no ar. De repente, tudo se torna claro, tudo se engrandece, tudo se justifica. É o ser humano atento à sua realidade maior, o Espírito que faz perfeitas todas as coisas. Encontrá-lo é rasgar o paradoxo entre a vida e a morte, entre o determinismo e a liberdade, entre o bem e o mal. Sua palavra é a criação, seu sentimento é o amor, seu tempo é a eternidade, seu propósito é a perfeição. Identificar-se com Ele é nunca estar só, é nunca sofrer, é nunca desesperar.” (Caminhos do Espírito, Ed. Educa, 1990, Antônio Celso Mendes)