O Universo é, essencialmente, um processo virtual

As virtualidades constituem a realidade primária do mundo cósmico, pois o Universo, precário em sua existência, não possui nada de permanente ou estável. Compartilhando com o mundo de nosso saber (ciência, filosofia, arte e religião), permanece fortemente dependente de nossa espiritualidade. PIERRE LÉVY em sua obra O que é o virtual (SP, Ed 34, 1999) nos assegura que o virtual consiste na apreciação do real de uma forma diferente, não estática, mas dinâmica, momentânea, mas não irreal, simbólica, mas não imaginária, holística, mas não abstrata.

Ainda mais, integrado em suas relações com o mundo quântico, o mundo virtual forma uma trilogia de nossas reduções eidéticas, correspondentes a uma Trindade divina: mundo cósmico (o Pai), mundo quântico (o Filho) e mundo virtual (o Espírito Santo), tendo por base o princípio: tudo o que está embaixo possui correspondência ao que está em cima.

O Universo é, pois, essencialmente, um processo virtual, pelas características que apresenta em suas similitudes com o Espírito que o anima: é sopro de vida, de racionalidade, de vontade e de liberdade, as mesmas características que possui o ser humano, detentor do privilégio do conhecimento reflexivo (consciência). Como se constata, é trabalho de nossa reflexão verificar como são próximas as relações entre o que percebemos interiormente e o que verificamos estar presente no Cosmos, pois o Espírito é o mesmo.

Assim, no que se refere ao macrocosmo, verificamos o inusitado de tudo que aparece, a interligação causal do que é criado, mesmo com suas fragilidades, o suceder constante do milagroso, a temporalidade incerta de sua duração. Ora, apesar da existência dessas circunstâncias, em tudo se transformando, o permanente prevalece sobre a instabilidade, tornando-o perene em suas mudanças: a transformação eterna, sem se alterar, é a essência do Espírito.

Na continuidade, verificamos que o Universo é racional nos propósitos longínquos que vislumbra, a perfeição que supera o caos, mesmo este submetendo tudo às vicissitudes do incerto e do provisório. Dessa forma, a racionalidade do Universo se nos apresenta virtual, um esforço constante de criatividade, como é próprio do Espírito que a anima. Daí o Universo se tornar coerente, apesar de seus paradoxos emergenciais.

Em acréscimo, a temporalidade e a transformação do Universo teria um efeito devastador em sua continuidade, fazendo prevalecer o caos em vez da ordem. Em vez disso, o Universo se nos apresenta harmônico em sua beleza, e duradouro em suas estruturas, mesmo permanecendo precário com seu futuro. Ora, a permanência instável de tudo é evidência mais do que concreta de que há uma Força Espiritual que o mantém vivo, uma Providência Transcendente que o sustenta.

O fato da existência de algo em vez do nada nos remete ao arbítrio de Alguém que decidiu criá-lo, a concreção de uma potencialidade que se transforma constantemente, dando-nos a ideia de que tudo pode restar melhor, se as condições virtuais que o inspiram se tornarem concretas. Eis aqui uma intuição primária de condicionamento que nosso espírito nos revela.

Dessa forma, tudo que existe, em sua temporalidade, é momento de participação num ser virtual que continuamente se transforma, porém, manifestação de algo que insiste em permanecer presente. Esta finitude é assim momento de eternidade, pela garantia do Espírito que a anima. Sem Este, nada tem sentido, pois a materialidade que o sustenta é apenas aparente e tal transformação, o sustentáculo de algo que não se extingue.