O ser, diferenciado nos três Universos

BlueLightBurstO SER é ímpeto criador de formas e substâncias, que são pura potencialidade em seu surgimento. Ele é causa do substrato da aparição, cujo resultado é puro milagre. No entanto, o ser pode ser considerado ontologicamente diferente, quando analisado sob a perspectiva dos três universos paradigmáticos:

No macrocosmo ele é tautológico, afirmando-se por si mesmo
No microcosmo ele é quântico, apenas provável
No mundo virtual ele é simbólico, produto de cultura.

No macrocosmo, a lógica clássica reza: o ser é, o não ser não é. Não obstante, na realidade as coisas não são tão evidentes assim, pois nosso pensamento capta sintomas de contradição, havendo coisas que parecem ser  mas não são (como nas aparências), assim como há coisas que parecem não ser, mas são (como nossas ideias). Contrário senso, os transcendentais do ser são os paradigmas que os filósofos depreendem das características de todos os seres existentes: assim, podemos dizer que todo ser é uno, é verdadeiro e é bom, mas isso em nível apenas metafísico, dos valores.

Pelo alcance  dos significados, o conceito de ser possui máxima extensão e, portanto, mínima compreensão, como demonstra a lógica clássica:  aplicando–se a palavra ser a tudo que é (extensão)  perde o sentido específico de conteúdo (compreensão). Não obstante, esta condição faz surgir o recurso à tautologia. Nessa condição, nosso espírito é levado a definir as coisas por elas mesmas, como nos exemplos: viver é estar vivo,  liberdade é ser livre, valor é o que vale, etc. Como exemplo histórico, JAHVÉ se define: “Eu Sou Aquele Que Sou”.

Já no microcosmo, o mundo quântico nos apresenta o ser movido pelo poder ser, ou a tendência  compulsória que o leva a se organizar. Superior ao tempo e ao espaço, o ser é a própria face do inusitado e da surpresa. Acima do acaso e da necessidade, ele oscila ora como onda, ora como partícula, o que ocorre igualmente no macrocosmo.

Finalmente,  o mundo virtual compreende nossas criações artísticas e espirituais, as quais são simbólicas e abstratas, mas repletas de influências em nossa vida corriqueira. O ser delas é absoluto e imutável, pois pertence ao mundo de nossa espiritualidade. O Ser de Deus se depreende da antropologia humana.

A filosofia grega nos legou o termo ontologia, a pesquisa  encarregada de tratar da consistência das coisas em seus aspectos referentes ao  ser e o não ser. Para PARMÊNIDES, só o ser existe: imóvel e eterno, faz da transformação uma aparência. Contrariamente, HERÁCLITO sustenta que a transformação é a base de tudo, nada permanecendo estável. Ora, tais proposições são incompatíveis, o que vem demonstrar a necessidade de uma nova compreensão do problema. ARISTÓTELES propôs a distinção entre essência e existência dos seres, como forma de superar os dilemas entre o concreto e o abstrato das coisas.

Assim, oscilante entre o contingente e o necessário, o ser é dotado de um dualismo comprometedor, o que o torna mais próximo do milagre do que do problema, conforme nos assegura JACQUES MARITAIN, em seu clássico Sete Lições Sobre o Ser (Ed Desclée de Brouwer, Buenos Aires, 1943). Santo Tomás de Aquino prova a existência de Deus a partir da ideia do SER, fonte primordial do existir.