O espírito, vida do Universo

É fato constatado pela História Antiga, que a humanidade sempre teve uma intuição natural de que o Universo é produto de causas que o ultrapassam, o que motivou o surgimento de variadas crenças, instintivas ou místicas, com o intuito de reverenciar as forças ocultas, os arcanos transcendentes que, embora aparentemente escondidos, nos oferecem pistas de Suas Presenças.

Ora, conceber que a realidade inclui uma perspectiva transcendente pode ser também o resultado de uma elucubração mental bastante trabalhada, como aconteceu com inúmeros pensadores antigos, em especial Platão e Aristóteles. Hoje, as pesquisas e as ciências físicas contribuem muito  para esse reconhecimento, na medida em que a cosmologia cada vez mais nos sugere o caráter ‘miraculoso’ do orbe universal (cfr. MARCELO GLEISER, Quando abandonar uma Boa Ideia. Jornal Folha de São Paulo. C3, de 27/4/2014)

Dessa forma, a ciência nos indica que houve momentos cruciais na eclosão da realidade cósmica, que foram como que a intervenção direta de algo misterioso e incompreensível pela nossa razão, sem o qual, contudo, tais momentos não poderiam ter-se concretizados: o Big–Bangé uma dessas ocasiões singulares, a partir da qual teve início nossa existência materializada.

Em acréscimo, é a partir de nossa experiência consciente que conseguimos captar os sinais indicativos da presença de algo que transcende o mundo material, sendo um notável milagre da evolução o fato de que um animal de corpo físico possa ser também o depositário de ideias que ultrapassam de muito os condicionantes biológicos de seu corpo, a materialidade de sua existência, sujeita aos limites do espaço e do tempo. Ora, isto nos comprova que no Universo,  a criação de seres humanos inteligentes é algo superior às suas condições materiais!

Isto não obstante, muitos concluem que o Universo é apenas o produto aleatório de concentrações ou dispersões de energia, o que nos comprova que aquela dependência transcendente não é um fato apodítico, mas nos indicam que o reconhecimento da vida do Espírito no Universo é uma inspiração que ultrapassa nossos sentidos físicos, sendo principalmente uma disposição de vontade que vem de fora, uma graça que necessita ser cultivada, e, a partir da qual nos sentimos participando de algo sagrado.

Assim, basta-nos apenas uma atitude de humildade, o assentimento que constitui nossa abertura ao divino, acrescida da intuição de que estamos vivos, participando de um momento da eternidade e participando da evolução cósmica em direção ao ponto ômega, como pensou TEILHARD DE CHARDIN. É assim que o mistério de minha individualidade deve ser  entendida, a materialidade viva de uma parcela do Espírito Universal.

Enquanto estou vivo, sou dotado de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, paradigmas essenciais da Fonte Senhorial que me criou, compartilhada por todos os seres humanos, o sinal mais eloquente de nossa origem divina comum, que não necessita de demonstração, por ser uma constatação espontânea e comum.

Em conclusão, o Espírito permeia o Universo constituindo tudo de uma forma virtual, um sopro de vitalidade inesgotável e eterno, que pode ser captado em todos os momentos da existência sensível, desde o mundo das micropartículas, até atingir os seres superiores em sua capacidade racional. Suas dimensões são os sem-limites que nos permitem captá-lo.