O Espírito, fundamento da realidade

Constitui grave engano histórico este da separação estanque entre matéria e espírito, pois a própria física quântica reconhece que há entre os dois um íntimo intercâmbio, como aquele da precedência de nosso pensamento moldando as reações dos átomos. Ainda mais, que não há diferença entre matéria e energia, esta uma forma primitiva da matéria, segundo as concepções  de EINSTEIN. Da mesma forma, as estruturas biológicas são exemplos notáveis de como a matéria pode se organizar em sua variedade, instintiva e inteligentemente, promovendo as reações peculiares dos seres vivos, seus genes e seu DNA.

Quando os materialistas reduzem toda a realidade a manifestações primárias da matéria, desprezam o fato fundamental de que tudo o que nós, seres humanos, somos capazes de compreender, resulta de algo abstrato, nossas ideias, que mesmo sendo produtos orgânicos de nosso cérebro, ultrapassam de muito a sua conformação biológica. Trata-se aqui do reconhecimento de um fato insofismável, bem no estilo da compreensão que os cientistas propõem a qualquer raciocínio filosófico, tido por eles como carentes de consistência.

Foi PLATÃO o primeiro filósofo a reconhecer que tudo o que o ser humano pode dizer da realidade tem por base a concepção de uma ideia, uma forma ou expressão que é completamente diferente de qualquer base material, por serem virtuais e abstratas. Assim, nossas ideias corporificam o essencial e o noumênico, como modelos de fundamentação teórica bem acima do reducionismo ideológico dos cientistas obcecados com o materialismo.

Ora, se tudo é expressão de nossos pensamentos, temos que reconhecer que a própria concepção de matéria é resultado de uma abstração mental, como resumiu GEORGE BERKELEY em sua expressão célebre esse est percipi, ser é ser conhecido. Constata-se assim o fato primário de que a organização do universo é fruto apenas de nossas contribuições mentais, colocando o Espírito como fonte primária de tudo o que se manifesta. Dessa forma, querer colocar a redução material como princípio básico constitui-se em erro primário de nossa inteligência, um preconceito puramente ideológico.

HEGEL (1770- 1831), um dos maiores filósofos de todos os tempos, soube captar bem as origens complexas de nosso espírito e pela dialética (tese, antítese e síntese), fez a distinção entre espírito subjetivo, objetivo e absoluto, três paradigmas interligados de uma mesma substância. O primeiro constitui as reações de nossa alma (compreendendo sensação, imaginação e ideias); o segundo, as estruturas mentais de nossa organização social (compreendendo família, comunidade e estado político) e o último, o absoluto, dizendo respeito ao mundo da arte, da  religião e da filosofia, os três momentos culminantes da cultura.

Segundo ele, o clímax do pensamento é a filosofia, tida como ápice da racionalidade, segundo seu aforismo “Tudo que é real é racional e tudo que é racional é real”, devendo ser entendido peculiarmente em perspectiva metafísica, uma expressão  exasperada do preconceito racional como fonte de verdade. Em nossa concepção, melhor seria se ele tivesse dito: “Tudo que é real é espiritual e tudo que é espiritual é real”, uma forma melhor de confirmação de sua síntese, pois o Espírito não precisa de provas de sua existência: Ele é o mais evidente fundamento na estruturação holística de tudo que concebemos como criado.