O espírito como objeto e como paradigma

Os objetos estão mais relacionados com a matéria (ratione materiae), a extensionalidade, as referências, os significantes, as explicações. Os objetos marcam a denotação das coisas. Os paradigmas estão mais relacionados com as formas (ratione formae), a intensionalidade, os sentidos, os significados, as compreensões. Os paradigmas marcam as conotações, o sentido abstrato, figurado, das coisas.

Diremos que os objetos estão mais voltados para o mundo de nossos sentidos corporais, o mundo físico, enquanto os paradigmas estão mais voltados para as nossas percepções interiores, os ângulos e as perspectivas de apreensão das relações, envolvendo cultura e valores. O espírito não pode ser concebido como um objeto por ser virtual e concreto apenas no mundo da lógica, como substrato de toda a realidade (HEGEL).

O espírito é paradigma comumente colocado como oposto ao mundo material, o que não deveria ser o caso, pois que ele é imanente e transcendente a tudo o que se manifesta: é imanente à realidade material, pois esta é dotada de vida, movimento e transformação, num processo dialético que representa sua própria sustentação.

Mas o espírito é também transcendente, pois que ele ultrapassa as meras sensações corporais, para se colocar num reino dos significados abstratos, simbólicos, mas nem por isso menos reais, quando nossas características espirituais imanentes se exercem na criação de conceitos e formas a priori. Ele é pressuposto necessário à lógica da própria realidade. É o mundo virtual do signo, da representação icônica, é conceito metafísico.

É dessa forma que o ser humano, dotado de pensamento reflexo, toma consciência de seu eu como autônomo (self) diante de tudo, exercendo suas características de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade de forma a superar seus condicionamentos físicos ou psicológicos, tramando seu próprio destino.

Em acréscimo, através da noção de causa, que o mundo material desconhece, nossa inteligência capta a ideia de uma Causa Primeira, Deus ou o Criador, como condição a priori de tudo o que possa existir, como pensou ARISTÓTELES. É assim que SÃO JOÃO nos afirma que Deus é Espírito (Jo,4-24).

Ora, colocar o Espírito no centro de nossas preocupações vitais e culturais é tudo o que a evolução cósmica mais aguarda e deseja. Assim, ingressar nessa atmosfera intelectual de espiritualidade é o que mais dignifica nossa humanidade, fruto recente de uma evolução que tem muito ainda a crescer e se transformar.