O convívio com o inesperado

Estamos todos assustados com as enormes tragédias que têm atingido diversos países, inclusive o Brasil, levando-nos a indagar se não é o próprio globo terrestre que anda raivoso com nossas ofensas à sua ecologia! Não obstante, o fato principal a concluir é que realmente nós não contamos com muitos argumentos para compreender o que acontece conosco e à nossa volta, neste mare nostrum de surpresas.

Sem dúvida, ressalta evidente para todos nós o fato de que a humanidade criou um sistema de produção (capitalista ou socialista, tanto faz) que não tem apresentado nenhuma consideração com as exigências do equilíbrio natural, cujo único objetivo é a obtenção de produção agrícola em larga escala, necessária para alimentar muitas bocas. Igualmente, que recortamos a face da terra com estradas e ruas de camada asfáltica, cujos tratores e patrolas são como que verdadeiros monstrengos a destruir a inocência de nossos caminhos.

Dessa forma, urge que comecemos a pensar nos riscos que estamos diuturnamente expostos, seja pelos excessos cometidos contra a mãe natureza, seja porque é de plena evidência que todos nos vemos cercados de acontecimentos inesperados, transformando nossa existência numa sucessão de surpresas que, queiramos ou não, são causadas por circunstâncias as quais não contamos com nenhuma certeza antecipada, senão alguns poucos vislumbres.

Assim, movidos pela maior surpresa que é a existência de nosso próprio eu e nossa consciência, que aparecem dotados de autonomia e vontade, prontos para quebrar o determinismo das contingências impostas pelas nossas origens, biológicas ou culturais, devemos aprender a sermos humildes diante da magnitude de um Universo que nos cria e nos destrói.

É dessa forma que todo o processo criativo natural começa a adquirir significado, que não se resumiria apenas em criar e destruir sem motivo, mas propõe-se a constituir uma história, na qual temos um papel decisivo a desempenhar na sua forma de melhoria ou destruição!

Pois que ao ser humano foi destinada esta tarefa sublime de transformar a Natureza a partir de sua coragem e intuição inovadoras, cabendo-nos agora tudo fazer para que possamos superar as tragédias e os cataclismos que nos massacram, não só pelos esforços nas pesquisas, mas principalmente pela nossa solidariedade e participação que se compadecem diante de tantos sofrimentos impostos a nossos irmãos.

Transformar nossa boa vontade em realidade, eis agora nossa tarefa de seres humanos que têm em si o desafio de construir um mundo novo de superação, erodindo todos os obstáculos que até agora nos colocaram contra a ordem estabelecida por quem a criou.

Em conclusão, olhar o Universo, nossa vida e o mundo que nos cerca de uma maneira otimista e participativa, eis os segredos para uma maior tolerância aos imprevistos que nos afligem, substituídos que devem ser por uma percepção mais confiante nos destinos da Criação.