Lugares, pressentimentos e tempos virtuais

O espírito humano possui uma qualidade pouco estudada pelos psicólogos, ou seja, a capacidade de intuir ou perceber realidades virtuais, situadas na dimensão simbólica ou onírica. Ora, a existência do pensamento virtual comprova a capacidade desse mesmo espírito em transcender seus condicionantes corporais ou apenas fisiológicos.

Contudo, não se trata somente de ficções ou sonhos, como se situassem apenas no mundo de nossas imaginações, ilusões ou mitos, pois o virtual se nos apresenta como constituindo uma das mais originais dimensões de nossa psique, dotada que se torna da capacidade de transcender os limites da matéria, sendo um verdadeiro milagre que o possa fazê-lo.

Assim, perceber lugares, estados e tempos virtuais consiste em nos abrirmos para o que há de mais original em nossa mente, fazendo despontar a verdadeira natureza de nosso espírito, que assim dotado de criatividade, imaginação, coerência, desejo do bem e da liberdade, nos capacita perceber as miríades das formas que a realidade pode abarcar!

Em consonância, o discurso próprio das virtualidades só poderá se concretizar se lançarmos mão de alegorias, metáforas e parábolas, refletindo quão distante se encontra nosso espírito de suas condições materiais ou fisiológicas, ultrapassando os limites puros de uma racionalidade que só pensa em comprovações observadas pelos sentidos exteriores…

Assim, a felicidade, o amor, a beleza, a vida eterna, o reino dos céus, a eterna juventude, a justiça ou os momentos do tempo que não cessam de passar, são conceitos sem contornos definidos, que flutuam constantemente ao sabor de nossas convicções ou de nossas esperanças. E estando todos em relação uns com os outros, são enfatizados simbolicamente de acordo com nossas inspirações, sempre nos indicando o quanto de fé temos que neles depositar, para que assim se concretizem.

É dessa forma que o passado se torna para nós sempre presente, este já antecipando como será o nosso futuro. Dessa forma, estando firmes na realidade do momento, precisamos aprender a valorizá-lo como o milagre do acontecimento, o suceder virtual presente na graça do viver. A beleza é igualmente pura virtualidade intuitiva, que pode resultar tanto da harmonia quanto da desarmonia das formas. Assim, como diz o ditado popular, quem ama o feio bonito lhe parece, o que nos indica que a beleza tem tudo a ver com a virtualidade de uma convivência amorosa compartilhada, que se supera continuamente.

O Universo só existe porque é espiritual, por permitir, desde o seu surgimento, que uma consciência capte sua verdadeira natureza, de uma forma original, criativa, porém mutável e dependente da introspecção de cada vida que se manifesta.