Formas e rótulos no conhecimento

No Diálogo Laques, Sócrates, tendo exemplificado diversos tipos de coragem, pergunta: ‘O que é aquilo, que estando em todas as coisas, é o mesmo?’ O problema refere-se à origem de nossas ideias ou conceitos universais, que dá condições para que nossa inteligência capte as identidades, superando as diferenças.

A noção de forma ou paradigma, como condição para o surgimento de nossos conceitos abstratos, foi a contribuição nos legada por Platão, a partir da ideia de que só nossos cinco sentidos não são capazes de estabelecer as homologias para identificar similitudes ou diferenças entre nossas noções intuídas pela inteligência. Dessa forma, são elementos formais ou paradigmáticos de nosso saber as ideias genéricas de causa, diferença, espaço, necessidade, beleza, relação, movimento, etc.

Foi assim que Platão, obcecado pelas contradições da dialética heraclitiana, concebia as formas como parâmetros abstratos de superação daquelas contradições, como fatores a priori surgidos por um processo natural de reminiscência, presentes em nossa mente, como sinais indeléveis das origens transcendentes de nossa consciência.

Já para Aristóteles, seu discípulo, as formas constituem os elementos inseparáveis das coisas, sendo, portanto, bastante concretas, um hilemorfismo ou combinação de matéria prima  e forma substancial, tornando possível o surgimento de todas nossas noções, em sua eclosão original, como objetos passíveis de intelecção.

Ora, como se observa, tais antagonismos teóricos entre mestre e discípulo servem apenas para enfatizar as diferenças na concepção da verdadeira natureza das formas, se abstratas ou concretas, se transcendentes ou imanentes, se anteriores, simultâneas ou posteriores à captação de nossos sentidos.

Face ao dilema, nada mais natural do que a procura de outros modelos epistemológicos, mais consentâneos com o real, como, por exemplo, conceber a noção de forma como complementar à noção de rótulo, na verdade este surgindo como uma combinação de formas, ressaltadas em função dos objetivos a serem alcançados pela semiótica da montagem combinatória dos detalhes.

Em substância, o trabalho rotular de nosso saber se destaca em qualquer montagem das noções percebidas, uma semiologia de ênfase e ocultação motivada pelo imediatismo de nossa curiosidade, interesse ou desejo de compreensão, o que é perfeitamente natural, em função da riqueza intuitiva de nossa espiritualidade.

Dessa forma, o conceito de rótulo se torna mais fértil em desdobramentos significativos, tornando claras as sutilezas presentes na combinação das formas. Ora, isto não é mais do que a constatação de que nosso saber é pura revelação de arte, a beleza e a riqueza dos detalhes, como apoteose criativa, puramente virtual. Esta é a maravilha que constitui nosso conhecimento.