Fontes transcendentes dos valores

Pela filosofia clássica, o existir é estar consciente de ser, tornando-se este o fundamento básico do pensar. Ora, o conceito de SER, por ser o mais extenso de todos (pois tudo que é, é ser), acaba se confundindo com o NADA, em termos lógicos de ausência de  contornos e, portanto, de compreensão. É por isso que o ser, tomado como fundamento ontológico, torna-se insuficiente para sustentar a realidade de tudo o que existe.

Assim, mesmo considerando a existência de tudo como tendo um fundamento num Ser Absoluto (DEUS), o perigo residirá sempre na tentação de caracterizá-Lo como um Isso, criador versus criatura, um objeto de percepção estranho à nossa própria realidade psíquico-simbólica. Sendo por isso diferente e original, nossa relação com Ele arrisca ficar restrita a um diálogo sem resposta, se não pudermos transformar esta relação num laço de fé, compromisso e afeição.

Ora, se a plenitude de conteúdo só vamos encontrá-la na percepção de individualidades, o que torna cada coisa natural única em sua essência, isto vale ainda mais quando nos referimos às pessoas humanas, únicas em sua espécie. Em acréscimo, como Deus está acima das espécies e dos gêneros, a tradição revelada insiste em percebê-LO como PESSOA, em sentido máximo de compreensão!

Dessa forma, se Deus é Pessoa, Ele é também a fonte dos valores que todos possuímos como seres criados, uma graça sobressalente aos determinismos da Natureza, como quando aspiramos atingir perfeição, verdade, justiça, amor, beleza, paz, etc. Mesmo considerados transcendentais por um processo natural de nossa intelectualidade (KANT), não deixam de sugerir sua origem transcendente, ultrapassando nossa acuidade natural.

Como intuições espontâneas que estão presentes em todas as nossas experiências, transformando o sentido de tudo que possa nos parecer negativo ou nefasto, anulando, portanto, a substância do mal, os valores devem ser considerados os fundamentos de todas nossas ações. Foi assim que PLATÃO imaginou os valores como sóis, fontes de luz a nos dar vida e alento.

Isso não obstante, seria necessário que a sociedade organizada e a cultura não fossem tão perversas em destruir nossa sensibilidade aos valores, como normalmente acontece em nosso dia-a-dia, quando observamos uma luta insana pela hegemonia, que na ânsia de obter poder, riqueza e prestígio, destroem vidas humanas, tornando-as infelizes, frustrando seus verdadeiros destinos.

Feliz será a humanidade, quando conseguir ver no outro a parcela divina que se manifesta, os valores que são sinais de Deus em nossas vidas.