Ética clássica, ética quântica

Depois que a física clássica foi substituída pela física quântica, na qual um novo mundo de relações e influências foram impostos à nossa consideração, cabe-nos agora a tarefa de examinar quais são as alterações que elas acarretam no mundo ético, este da compostura de nossos comportamentos. Pois, na verdade, os átomos têm muito a nos ensinar, quando se trata de como devemos agir. Alternando fluxos de energia, ora ondas, ora partículas, os átomos surgem e desaparecem repentinamente, restando apenas os seus efeitos. Ainda mais, só se realizam em combinação com outros átomos, para formar as substâncias e as moléculas, dos quais resultarão posteriormente todos os corpos.

Diante disso, as consequências éticas para nós se tornam evidentes: como criaturas surgidas de forma aleatória, nossa característica principal é sermos ativos apesar de nossas ambiguidades, sem nos esquecermos de que nossa vida só adquire sentido quando compartilhada em missões construtivas de um trabalho comum, pois sozinhos não temos nenhuma importância significativa.

Ora, em função desse novo panorama, as escolhas de nossos atos deixam de ser determinísticas, sendo suas condições ou efeitos, bons ou maus, apenas relativos, uma consequência das contingências de nossas situações vitais, condicionadas pelas dimensões material, orgânica e mental de nosso ser. Como uma ética do sentimento, aquilo que costumeiramente consideramos como mal, torna-se agora fruto apenas de nossas deficiências em alcançar os verdadeiros bens.

Assim, isso é bem diferente da ética clássica, aquela preocupada com a correção ou perfeccionismo de nossos atos, centrados nas oposições absolutas entre o bem e o mal, o orgulho pelas nossas virtudes de retidão e o heroísmo pelos imperativos categóricos (KANT). Tudo isso deve agora ser repensado de forma quântica, relativista e pontual, como são as próprias características do mundo das micropartículas, onde vigoram parâmetros bem diversos daqueles de nosso mundo objetivo.

Pois notamos que há, assim como no mundo microfísico, uma ambiguidade permeando tudo que praticamos, e, seguidamente, nos encontramos confusos quanto à justeza de nossos atos, as cifras de nossa liberdade, pois ocorre que muitos infortúnios podem nos trazer benefícios, assim como coisas que nos parecem boas na verdade nos são prejudiciais, por não termos o domínio completo das condições ou consequências de nossos atos. Obter o melhor bem de tudo o que nos acontece deve ser em nós uma prática de humildade e tolerância para com todas as imperfeições de que somos dotados, nós e os outros.

Portanto, o enfoque principal da nova ética não deve ser aquele do puro livre- arbítrio, individualista e autônomo das virtudes pessoais, mas deve sim funcionar como corresponsável na melhoria dos padrões morais daqueles que nos são próximos, pelo nosso exemplo e fidelidade a nossos próprios ideais, materializados em ações efetivas de auxílio aos mais necessitados, como foram exemplos paradigmáticos Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce.

Enquanto a ética clássica é de retórica e admoestação, a ética quântica é aquela da prática do amor incondicional, que não fica apenas na aparência, mas age com simpatia e acolhimento. Concluímos assim, que a ética quântica tem muita afinidade com a ética cristã, pelos inúmeros exemplos do magistério de nosso mestre maior, o Cristo que nos ensinou como sermos bons na prática de nossos atos, mas sobretudo cuidadosos com a felicidade dos outros, não com a nossa própria.