Espírito, invenção ou descoberta?

O Espírito é para nós, seres humanos, uma realidade fundamental, presente em nós por sua imanência, mas também exterior a nós por sua transcendência. Inerente ao nosso pensamento, Ele é também o móvel principal de tudo que é criado, o Universo e a Natureza, efetivos em sua materialidade, porém só percebíveis em si mesmos por nossa subjetividade.

Dizer que o Espírito é invenção é imaginá-lo fruto apenas de nossos devaneios mentais, sem nenhuma correspondência com a realidade. É o mesmo que compará-lo a tantas coisas virtuais e imaginárias criadas por nosso cérebro, mas evanescentes e não possuidoras de nenhuma consistência. Como afirmava Kant, sendo apenas um mundo de idéias, carrega uma inelutável subjetividade heurística.

Por outro lado, afirmar que o Espírito é fruto de uma descoberta é percebê-lo fonte e causa de todas nossas vivências, origem de nossas percepções do mundo e do Universo, imiscuído ao mesmo tempo com nossas percepções subjetivas ou objetivas. Razão de nossa vida e conhecimento, nosso espírito é o selo de algo transcendente que permite que tudo possa se tornar real e compreensível (Espírito, com letra maiúscula).

Ora, basta uma análise superficial de tudo o que ocorre em nossa vida, em nossas percepções do Universo e em nossa ciência, para chegarmos à conclusão de que o Espírito repousa dependente tanto de nossos mecanismos cerebrais (como invenção), mas, sobretudo, como ele se impõe a nós como presença ou descoberta, num misterioso paradoxo de efetividade.

Concebido à moda platônica, como uma idea vincada na realidade, o milagre da matéria corporal que gera pensamento, o espírito é também uma síntese mental obtida através de nossa herança histórica e cultural, uma intuição que se impôs progressivamente à evolução da história humana.

Assim, como uma descoberta tanto subjetiva como objetiva, o Espírito se expressa para nós, vertido em suas quatro características fundamentais, inerentes ao Universo e ao ser humano: a criatividade, a racionalidade, o sentimento e a liberdade.

Pois o Universo existe, é real, trazendo em si uma potencialidade inovadora que se impõe pela riqueza de sua criatividade. Em seguida, percebendo-o pela nossa ciência, constatamos o rigorismo de sua lógica, a racionalidade matemática de suas leis. O mesmo vale para o sentimento, a carga emotiva que sentem todos os seres vivos. Por fim, a liberdade, como condição fundamental da gratuidade aleatória de tudo que é criado.

Ora, esses são os motivos pelos quais não podemos fazer de conta que o Espírito não existe. Sua presença é revolucionária, nos fazendo perceber que há um propósito em tudo o que existe, bastando apenas acurarmos nossa inteligência e nossa sensibilidade para Algo que se encontra bem perto de nós.