Do nada à existência

Por que existem as coisas em vez do nada é pergunta recorrente na história do pensamento humano e qualquer resposta natural não esgota o mistério de sua ocorrência (sic). Trata-se aqui do surgimento de uma compreensão só acessível ao seu humano, através de sua capacidade mental, espiritual e abstrata, algo ainda mais notável que a própria concretude do Universo!

Mesmo assim, todos estamos conscientes das  dificuldades que a inteligência humana tem tido nas tarefas de explicar e compreender os aspectos excepcionais que têm envolvido o surgimento do mundo criado, dando margem à complexas versões. Não obstante, o desejo humano de compreender tudo tem superado essas dificuldades, pela potencialidade do Espírito que o  anima.

Assim, para a maioria dos cientistas, o fenômeno da  vida não é comum no Universo, dadas as condições físicas e biológicas raras que implicam o seu aparecimento. Muitos pesquisadores vão ainda mais além, ao constatar a ocorrência de um verdadeiro milagre no surgimento na combinação das proteínas necessárias à conformação do DNA dos seres vivos, o que implicaria a interferência de uma Mão Divina no surgimento do processo. Assim, eis mais um motivo para o fortalecimento de nossas atitudes de humildade e graça por uma existência que nos é dada de forma excepcional, uma consciência explícita de estarmos vivos.

De igual maneira, é nosso dever nos mostrarmos preocupados com o descaso com que a cultura permite e incentiva a destruição da vida, tendo por base a degradação do meio-ambiente, as conquistas econômicas, as guerras e os armamentos, produtos perversos de nossa ganância ou desejo de hegemonia política, gerando uma sociedade maléfica em seus desígnios, uma verdadeira mimética de Caim.

Além do mais, está ainda incompreensível para nós o fato de a matéria física ter gerado os processos vitais, autônomos  e anti-entrópicos, criando uma variedade de formas vegetais e animais que nos assustam por sua beleza e excentricidade, colocando a sua finitude como despicienda e necessária à renovação da própria vida, a hegemonia do dinâmico sobre o estático. Mesmo assim, a vida não perde seus   desejos de  perenidade.

Ora, tudo isso é muito original pelas condições de seu surgimento, cabendo agora muita cautela de nossa parte como seres dotados de reflexão, para entendermos nossas responsabilidades diante do viver, nossa obrigação de correspondermos a este chamado divino, concedido a nós gratuitamente, sem termos tido nenhum mérito anterior, o milagre de termos sido retirados do nada para participar de um momento da evolução histórica.

Só assim fica explicado em que possa consistir nosso viver, que não será outro senão aquele de realizar a parte mais nobre de nossa espiritualidade, os valores que o Espírito nos sugere, acima do tempo e manifestação de Sua Originalidade. A transcendência de nossa espiritualidade é abertura para a fé, a atitude mais coerente em relação ao mistério do existir, pois Deus, que participa de todos os seres, ainda mais está presente em nosso ser, garantindo assim  nossa permanência além da morte, mesmo que isto seja para nós incompreensível!