Deus em nossa companhia

Insatisfeitos na percepção das coisas sempre de forma dual e oposta, ou seja, o bem em relação ao mal, a saúde em relação à doença, o vício em relação à virtude, a vida em relação à morte, Deus em relação a nós, nada mais legítimo do que a procura de uma maneira de superar estas oposições, passando a vê-las em perspectiva de mútua dependência, como realidades em mútua implicação.

Ora, tal integração se coloca tendo em vista que nada neste mundo ocorre de forma autônoma, mas tudo oscila como fato, antecedente e/ou consequente, o que demanda percebermos que há algo mais do que meras oposições, implicando um terceiro elemento que, em perspectiva tridimensional, completa e supera o sentido primário de cada coisa. Ora, esta intuição trinitária, ínsita em nossa subjetividade, é a indicação de que na origem de nossos conhecimentos repousa a ocorrência de três fatores: o fato, a essência e o sentido (o quo, o quid e o propter quid, diriam os latinos).

Dessa forma compreendemos que as coisas se processam desta maneira porque há, como estofo fundante de toda a realidade, um princípio triádico que a cria e sustenta, sem deixar de ser uno e pessoal: eis aqui o mistério da unidade e da dispersão, como fundamento supremo de tudo o que ocorre. Como momentos, costumamos chamá-los presente, passado e futuro; como fases, ação, reação e consequência; como energia: poder, criação e transformação; e como revelações teológicas,  Pai, Filho e Espírito Santo.

Na continuidade, importa agora verificarmos como conseguimos alcançar a percepção desse Princípio Triádico Criador, que está presente em nós de uma forma tão insistente. Para tanto, vamos recorrer à nossa subjetividade (inteligência, perspicácia e sentimento), três raízes ou sinais da Trindade em nossa alma, bastando-nos apenas acolhê-las.

Assim, é por meio de nossa inteligência que conseguimos perceber além de nossos sentidos, e ela nos indica que em tudo o que é criado há uma trama de causas e efeitos aleatórios, mas que conseguem assim mesmo alcançar, por suas próprias potencialidades, efeitos inusitados e verdadeiramente miraculosos. Basta só um pouco de aprofundamento para percebermos que, além do caos, subjaz um Princípio de Concreção que dá origem a tudo que acontece. A fé no-LO revela como Deus Criador.

Em complemento, há de haver sabedoria para que possamos obter, na complexidade das coisas, tudo o que de bom elas podem nos oferecer. Tal perspicácia se nos apresenta como propósito do Criador, como Ele Próprio revestido de prudência e percepção de valor. A Revelação identifica-a com o Cristo, Deus Encarnado e Mestre Divino da Sabedoria.

Finalmente, nada tem sentido se não for percebido como momentos de nossa própria transformação, um sentimento profundo como resposta a todos os desafios que enfrentamos e que nos permitem perceber que não bastam apenas nossas reações, mas sim o surgimento de atitudes proativas que nos capacitem superá-los. Ora, sentimos que tais inspirações são produto da ação de um Espírito, que é, ao mesmo tempo, Sábio e Poderoso. Em resumo: Deus nos é acessível em sua Unidade, que se desdobra naturalmente em Tridimensionalidade, como consequência natural de Sua Infinidade!