Chapecoense: predestinação ou acaso

img_1240O conceito de predestinação tem, em primeiro lugar, um conteúdo cristão: refere-se ao pressuposto de que Deus, sendo onisciente, sabe de antemão quem se salva ou quem vai para o inferno, tendo por base inúmeras citações bíblicas (São Paulo, nas cartas aos romanos e aos filipenses, de forma destacada). No sentido laico, a predestinação se baseia na crença popular de que nada acontece por acaso, de que tudo está previamente determinado, pela evolução sucessiva das ocorrências.

No que diz respeito ao conceito religioso, as opiniões, historicamente, tem sido muito divergentes, sendo a mais notável a de Sto. Agostinho, que ressalta o fato de que o conhecimento prévio de Deus apenas coincide com nosso livre-arbítrio, tendo em vista as decisões que tomamos. Quanto ao conceito popular, verificamos que ele não possui nenhum cabimento, sendo apenas um antropomorfismo, resultante de nosso engano em atribuir à Natureza as mesmas características de nossa mente, que em tudo procura laços de dependência.

Dessa forma, não há que falar em destino prévio a determinar o futuro dos acontecimentos, pois tudo ocorre de maneira sucessiva e aleatória, sendo apenas determinados pelas condições prévias que os fazem acontecer. O acaso parece ser antagônico ao determinismo, mas ele ocorre apenas pela confluência de diversas causas, não se constituindo, portanto, uma ideia avessa a ele.

Vemos, portanto, que as ocorrências fáticas no âmbito de nossa realidade são reais, mas são virtuais, no sentido de que poderiam não ter acontecido, mas ocorreram, resultando a tragédia que todos lamentamos. No fundo, o que de fato necessitamos é uma transformação em nossa maneira de encarar a morte, que não é sofrimento, mas libertação, que não é o fim, mas prolongação, pois na Natureza nada termina, mas apenas se transforma.

A religião é um bálsamo na superação da tristeza da morte, por contarmos com a promessa de Cristo de que a morte é uma rápida passagem, como ocorreu em sua fala ao bom ladrão: ‘Hoje mesmo estarás comigo no paraíso’.

O fato da cultura ocidental não ter assimilado o verdadeiro espírito do cristianismo no que diz respeito ao fenômeno da morte é um acontecimento lamentável, por ter perdido a verdadeira inspiração que o domina, isto é, que a morte representa apenas um momento de libertação, um prêmio divino dado às criaturas criadas por Deus, semelhantes a Ele em sua espiritualidade. Eis, pois, que em tudo Deus seja louvado.