Caráter trinitário das formas

A caracterização de cada ser ou objeto passa pela nossa capacidade de intuir a feição própria de cada coisa. Na variedade de nossas intuições mentais, as formas constituem o resultado espontâneo de nossa espiritualidade. Isto se dá em três fases, formadas, em primeiro lugar, pela unidade dos aspectos percebidos; em seguida, pela dualidade existente entre o eu e as coisas; e em terceiro lugar, pelo efeito simbólico que gera aquela percepção. São exemplos expressivos: o rosto de Cristo apreendido na disposição das nuvens; as cores que formam a pintura, etc.

Assim, todo processo criativo formal resulta da presença desses três aspectos essenciais, pois a forma das coisas pode ser considerada, em primeiro lugar, o paradigma redutor de sua individualidade, constituindo a sua essência, fazendo com que ela seja aquilo que é. A forma tira o ser de seu nada, colocando-o no rol das individualidades.

Em perspectiva dualista, Platão chamou as formas das coisas de Ideas, colocando-as no mundo abstrato das conceituações mentais, mas existindo por si mesmas (por serem a priori). Nossa inteligência apenas as descobre (aletheia, verdade). Já para Aristóteles, as formas são substantia, como estruturas redutoras que dão a cada coisa a sua natureza específica.

Em acréscimo, as formas podem ser analisadas sob perspectivas unívocas ou análogas, o que permite distinguí-las por diferenciação ou semelhança, formando um quadro vasto de taxionomia lógica. Este tem sido o esforço de nossas ciências, empíricas ou abstratas.

Contudo, nosso propósito aqui é desenvolver o estudo das formas sob prisma de perspectiva triádica simultânea, como fases que se co-implicam reciprocamente.

Em primeiro lugar, diremos que as formas trazem em si o poder de criar as coisas. De fato, tudo surge a partir de sua diferença específica : é a forma que constitui a coisa, pois não há ser sem uma forma que lhe corresponda.

Em segundo lugar, diremos que as formas não são fixas, mas que se trans-formam em concomitância com a sua própria evolução. Assim, o deperecimento de cada coisa cumpre uma contingência inerente à sua própria estrutura mutável, assumindo novas conformidades. Ex: as diversas formas geratrizes das borboletas.

Ora, isto nos força reconhecer que no seio do próprio processo criativo das coisas mora o provisório, o que reflete a categoria instável de nosso conhecimento. Eis-nos, então, diante do terceiro aspecto que constitui as formas, a sua característica simbólica, como elemento de ligação entre a novidade e a instabilidade transformativa dos momentos.

Portanto, da essência trinitária das formas resulta que não podemos conceber mais nenhuma das partes integrantes do processo de geração das formas como autônomo, pois envolve, ao mesmo tempo, idéia (essência), substância (dualidade) e relação (simbolismo).

Em conclusão, a integração de nosso pensamento com as coisas passa pelo reconhecimento de que tudo está co-implicado: a criatividade universal, a humanidade vivente e a sua cultura, todos submetidos a um processo dialético que inclui unidade, dualidade e trialidade (um em três; três em um)!