As virtualidades constituem um Universo mágico

Diferentemente do mundo cósmico e do mundo quântico, o mundo virtual é pura sensação do imaginário, do abstrato e do milagroso, constituindo o universo específico de nossa espiritualidade. Sua natureza peculiar nos obriga a colocá-lo em seu habitat próprio, ou seja, aquele mundo específico através do qual o Espírito se manifesta na Natureza.

Como exemplos de fenômenos virtuais, podemos citar: o transcurso do tempo, a sensação de estarmos vivos,  o mundo das formas (PLATÃO), a concretude de nossas utopias, a certeza de nossas crenças, a permanência de nossas tradições, os caminhos da história, as criações artísticas, nossos ideais de perfeição, as percepções de nossos sentidos exteriores ou interiores, nossos sentimentos de amor ou ódio, nossa consciência, o reconhecimento do outro, o mundo da arte, nossas orações, etc.

Ocupando o vasto  espaço da cultura, os fenômenos virtuais irrompem a partir de nossas intuições espirituais, tornando-se permanentes em seus efeitos, por ficarem consolidados acima do tempo e confirmados pela tradição e pela história. Ora, isto assegura a perenidade das experiências virtuais que, submetidas às transformações naturais, tornam-se cada vez mais concretas.

É dessa forma que o mundo virtual se coloca como coroação do mundo cósmico e do mundo quântico, transcendendo as limitações destes últimos. Ele é tanto mais concreto quanto sejam  as intensidades  de sua vivência, que vai, pouco a pouco, sedimentando  um mundo mágico de criatividade, aspirações e valores.

Dessa forma, por um refluxo de sua importância, sua tendência se faz no caminho de superar, seja o mundo cósmico, seja o mundo quântico, tornando-os cada vez mais translúcidos, cada vez mais abstratos, cada vez mais espiritualizados. É nesse sentido que o mundo virtual é o coroamento eficaz da criação, o único capaz de permitir uma  compreensão global de tudo que vemos expresso no Universo.

Um exemplo notável de mundo virtual são nossas vivências religiosas, que incorporam um mundo simbólico cheio de concretudes históricas, mas que são imortais em sua liturgia. Imersa no tempo, a experiência religiosa é a expressão mais autêntica de como o temporal pode se tornar eterno, mesmo quando submetido às vicissitudes de seu surgimento. Tudo que foi criado passa então a ser permanente em sua virtualidade, garantindo assim nossas esperanças na  imortalidade, natural ou revelada.

A superação do egoísmo pela dissolução do eu em direção ao rosto do outro (LEVINAS) é também uma experiência virtual de acentuada originalidade, na medida em que reconhece a consciência de si apenas como um reflexo de  relações fraternais, o que se transformaria numa revolução social de grande envergadura, a única verdadeiramente consistente em termos ideológicos (desprendimento e ética).

Assim, tudo se concretiza a partir do mundo virtual, dependendo apenas de nosso assentimento aos seus apelos, tendo como origem algo estranho ao mundo natural, a mágica de nossas intuições espirituais.