Apologias do incorreto

Nossa cultura pós-moderna anda mesmo revolucionária (no mau sentido). Basta um relance e eis-nos diante de cineastas fazendo elogios a HITLER; cartunistas criando figuras acima do bem e do mal; ministros que ficam ricos através de ‘honestas’ consultorias; supremos tribunais, em puro lance de demagogia, passando a substituir o poder legislativo; é a mídia costumeiramente fazendo alarde das mazelas do mundo; é o império assustador de uma cultura sem rumo e sem valores!

Como se isso não bastasse, vem agora o MEC nos propor a apologia do erro e das formas erradas de expressão, como se isso fosse a fórmula mágica para redimir nossas tradicionais formas elitistas de usar a gramática, excluindo os menos favorecidos (sic). Realmente, jogar as formas corretas e legítimas de estudar a língua na vala comum da suspeição é tudo o que menos poderíamos esperar de um Ministério da Educação comprometido com a educação e a cultura.

A polêmica não é nada vazia, como querem dar a entender alguns (Opinião, Gazeta do Povo, 19/5/2011), pois o que está em questão é considerar qual o verdadeiro objetivo emancipador que o livro Por Uma Vida Melhor deseja atingir. No final, medidos custos e benefícios, fazer apologia do falar errado não contribui em nada para dignificar nossa cultura ou melhorar os níveis de nossas escolas já ineficientes e desestimuladas.

Sem dúvida, compreende-se que o assunto sério do aprendizado correto de nossa língua não deveria ser abordado dessa forma, quando o MEC deveria, isto sim, é estar preocupado com a redenção de nossos baixos índices de aproveitamento escolar, a começar pela valorização da profissão de professor, constantemente vilipendiada neste país, desde os tempos do Império.

Uma sociedade organizada que não coloca como prioridade a qualidade do aprendizado e as instalações de nossas escolas não merece a aspiração de se tornar desenvolvida, por maiores que sejam seus sucessos no campo econômico, o que já se sente hoje, com a falta de mão de obra técnica compatível com as exigências de empresas cada vez mais sofisticadas.

O problema crucial consistirá ainda em afirmar coletivamente uma vontade política que sensibilize nossos legisladores para que se empenhem de corpo e alma em estabelecer as verdadeiras prioridades necessárias ao nosso integral desenvolvimento, que não se efetivará apenas com a construção de estádios de futebol ou pistas de atletismo.

Se não dá mais para reverter a situação, que pelo menos esta se transforme numa oportunidade, embora tardia, para que todos se conscientizem de que é urgente a valorização da carreira de professor, retribuindo seus esforços com melhores salários, como bem advertiu recentemente aquela humilde professorinha do Rio Grande do Norte.