Ações provocativas do espírito

Captar a presença de um princípio espiritual condicionando toda a realidade exterior é algo espontâneo e natural, bastando sentir as características intencionais, virtuais e extáticas de que são revestidas todas as coisas. O antropomorfismo não afeta esta percepção, a partir do momento em que passo a perceber a interação existente entre mim e o mundo que me cerca, pois não se trata de uma experiência dualista, como um eu separado do mundo.

Isto não significa assumir nenhuma forma de subjetivismo ou idealismo que negue a realidade objetiva, pois é esta justamente que me testemunha suas características sui generis de imanentismo e transcendência, como pensou Santo. Tomás, com seu realismo moderado. Dessa forma, podemos constatar:

  1. Meu poder de conhecimento é de origem espiritual, a partir da qual passo a deter a capacidade abstrata de intuir ideias e conviver com o mundo das abstrações intelectuais, as formas platônicas.
  2. O espírito, causa de minha identidade pessoal, pois a síntese de um eu a partir de manifestações orgânico-biológicas é fenômeno que indica um processo evolutivo orientado e destinado a eclodir como uma noosfera, ou a caracterização cada vez mais concreta de uma individualidade consciente (TEILHARD DE CHARDIN).
  3. A simetria e a beleza de todas as coisas é também produto da espiritualidade imanente que subjaz a toda a criação, transformando o caos material em estruturas cada vez mais atraentes e belas, através da arte, criativa ou contemplativa.
  4. O espírito, origem do tempo e da história, na medida em que o Universo, considerado em sua autonomia, desconhece o passado e o futuro, convivendo apenas na eclosão de seu eterno presente.
  5. O espírito, fonte das coerências do microcosmo, que oscila ora como partícula, ora como onda, sem perder o sentido da dinâmica e da estrutura das transformações.
  6. O espírito, princípio de inspiração extática, manifestada pelos místicos como S. Paulo, Sto. Agostinho ou São Francisco, entre tantos outros, e por anacoretas como Buda, Lao-Tsé ou Plotino.
  7. O espírito, fonte de nossa sensibilidade emotiva, que deseja ardentemente a superação de todas as desavenças, pois se criar significa dividir, o afeto significa unir e acolher, como num ato de amor.
  8. O Espírito, presente em Cristo de forma plena, é exemplo para nós do quanto seríamos capazes de realizar, os milagres que confirmam a divindade do Homem-Deus entre nós.