A virtualização da realidade

O ser humano, através de sua inteligência, procura uma realidade de consistência absoluta e tem dificuldades de encontrá-la, depois de perceber que tudo está em constante mudança, ocupando apenas alguns momentos na dinâmica da transformação. Não obstante, mesmo assim sente a presença de algo permanente, um sustentáculo virtual, que mesmo sendo obscuro em seus processos de ação, é-nos imprescindível como figurante causador de todos os fenômenos, inclusive nossa própria existência.

Dessa forma, podemos verificar que tudo o que ocorre na Natureza é momentâneo, mutável e transformável, como ocorre com a física quântica, os fenômenos luminosos, as formas estéticas, os meios de comunicação  (eletrônicos ou não), e porque não dizer, tudo que nos cerca, incluindo nosso conhecimento, obtido através de nossos sentidos.

HEGEL, pensador alemão do século XIX, criou um aforismo que se tornou célebre: ‘Tudo que é real é racional e tudo que é racional é real’, cuja filosofia partia do pressuposto da identificação de nossa razão com a realidade exterior. Não obstante, parece-nos mais consistente caracterizar a realidade ou a totalidade dos fenômenos como virtuais ou imprecisos em sua permanência, colocando a razão como um instrumento inadequado ou apenas um acessório para responder por todos os aspectos, claros ou obscuros, que permeiam a realidade como um todo.

Pierre LÉVY em seu livro ‘O que é virtual’(S. Paulo, Ed 34, 1999), relaciona o virtual com o real, o possível e o atual; pois o virtual é apenas o real em expectativa; é o possível, de fronteiras ilimitadas e pode ser o atual, se se manifesta no momento. Contudo, o virtual tem como distinção principal a sua evanescência, seu caráter quase miraculoso.

Dessa forma, podemos citar como processos virtuais:

  1. O existir é um fato virtual, fruto de mecanismos aleatórios advindos da biologia, o que nos torna reféns de sua precariedade orgânica. Só pela fé podemos justificar nossa existência..
  2. O tempo é um processo virtual que condiciona o aparecer, a transformação e o desaparecimento dos fenômenos naturais, incluindo o Universo como um todo. É o tempo que torna tudo provisório, pela sua constante mutação.
  3. O conhecimento é também uma experiência virtual, por se encontrar sempre dependente de intuições subjetivas..

Em conclusão, fica-nos claro que o fenômeno das virtualidades não ocorre apenas pelo acaso das circunstâncias, mas implica um substrato homólogo ao que se constata, um Espírito, que por ser também virtual, implica nosso reconhecimento pela fé, a única certeza real.