A trindade vivida em mim

No correr da vida, posso sentir a presença constante de três coisas preponderantes que estão sempre querendo me dominar: um desejo ilimitado de poder; o risco constante de fracassar, compensado por uma esperança tênue de vencer. Estes são os sentimentos de qualquer ser humano natural, que insiste em permanecer só e abandonado, sofrendo grandes frustrações. Contudo, o apoio da fé será muito eficaz para superá-los, bastando que relacionemos aqueles sentimentos de domínio com a força providencial do Pai, nossos sofrimentos e fraquezas com o sentimento amoroso do Filho e nossos consolos e esperanças com a ação inspiradora do Espírito.

Dessa forma, é importante sabermos avaliar como temos procedido com os desejos, os sofrimentos e as esperanças que alimentam nossa vida, que numa apreciação transcendente, são verdadeiras inspirações de como dar plenitude a tudo que nos acontece, sejam percalços, vitórias ou derrotas, dos quais nos sentimos incapacitados de avaliar seus verdadeiros significados ou suas verdadeiras consequências.

Evidentemente, tudo isso só pode ser alcançado por uma atitude de fé, que não é apenas crença, mas sim um convívio dialogal presente em mim a partir de uma experiência trinitária que me ilumina, através da qual faço de minhas fraquezas (semelhantes às de Cristo), a certeza de poder superá-las (pelo poder do Pai), contando com uma inspiração positiva que me ultrapassa (pela graça do Espírito).

Ora, no referente às nossas fraquezas, os ensinamentos de Cristo são muito claros: não sucumbir nunca a seus aparentes domínios, mas confiar que o Poder do Pai nunca frustra nossas esperanças, pois, se temos fé, sempre haverá a certeza de que há uma Providência a guiar os caminhos, sejam os nossos, sejam aqueles da História. Pois foi em percalços que o Universo pode culminar em consciência (sic).

Por outro lado, uma análise superficial de como temos sido arbitrários em nossas vontades nos leva a constatar o muito que temos de aprender, quando se trata de conter nossos ímpetos, nossos exageros ou nossos excessos de poder. Pois a autonomia verdadeira é aquela que se autodisciplina, aquela que aceita as diferenças, e faz de tudo para cultivar a paz. Se a história antiga ou recente da humanidade tem demonstrado apenas o poder do mais forte, que isto sirva de alerta para que não ultrapassemos os limites de nossas possibilidades, obtidas muitas vezes à custa da opressão impingida a nossos semelhantes.

A partir desse ponto, só a evocação de Jesus, o Cristo ungido de Deus, pode nos servir de exemplo na superação de todas nossas vaidades, maculadas que estão por inúmeras pretensões de luxúria. Assim, a mensagem do Messias é de comiseração e aceitação de tudo o que nos acontece como sendo reflexo da vontade do Pai, que de forma alguma se trai a si mesmo.

Tudo isso, porém, só será alcançado pela gratuidade pura de uma graça que nos é revelada, estando apenas à espera de nossa aceitação. Quem aceitá-la, já demonstra sinais de que reconheceu que nossos sentimentos vitais são apenas lampejos de uma inspiração sobrenatural.