A tríade psíquica de Malebranche

Resulta assaz estimulante a intuição mística criada pelo pensador francês NICOLAS MALEBRANCHE (1638-1715), segundo a qual Deus ocupa um lugar de destaque em nossa psique, mantendo nossa vida, resumida em  sensibilidade, imaginação e racionalidade (Nós vemos todas as coisas em Deus). Tal ocasionalismo nos dá assim a garantia de nossa importância como seres viventes, confirmando a afirmação de  São Paulo no areópago: “NEle vivemos, nos movemos  e existimos”(At: 17, 28). Sem dúvida, a única forma de resgatarmos a dignidade humana será através de sua vinculação essencial a algo divino, depois que DARWIN nos igualou a meros macacos que evoluíram (sic)!

Sob a influência de DESCARTES e STO. AGOSTINHO, Malebranche deu ênfase peculiar ao racionalismo, porém sem perder o lado místico de sua feição aberta ao transcendente. Contudo, uma análise atual de seu pensamento não pode deixar de levar em conta a crise atual que atinge  o racionalismo clássico, afetado por suas dimensões linguísticas e semióticas. Dessa forma, suas intuições sobre a descoberta da verdade podem ser examinadas sobre novas ilações paradigmáticas, mais consentâneas ao momento  cultural que estamos vivendo, sem deixar de assimilar a originalidade de seu pensamento.

Assim, em sua obra principal, A Procura da Verdade, Malebranche nos propõe como fontes originárias de nosso conhecimento os sentidos, a imaginação e a razão. Não obstante, há uma disfunção entre estas três fontes de nosso saber, motivada por uma falha desconhecida (um pecado original?), que não permite um equilíbrio saudável entre elas, que deveriam testemunhar DEUS de uma forma natural. Por isso, a todo momento  os sentidos nos enganam, assim como a imaginação, que facilmente se perde nos desvarios das alucinações; o mesmo acontecendo com a razão, sempre às voltas com seus sofismas. Dessa forma, nossas ideias perdem a sua eficácia, permanecendo apenas como simbolismos desconexos.

Dessa forma, esta percepção imediata da realidade de Deus mantendo a vida a todas as formas da criação seria para nós algo evidente, não fosse aquela falha original. Assim, segundo Malebranche, estas são as causas de nossas falhas na percepção de Deus, que é de fato a fonte e a origem de todas as nossas experiências, pois sem Ele nada teria vida e muito menos consciência. Não obstante, nossas ideias permanecem abstratas e simbólicas, impedindo suas relações essenciais com a Divindade.

Como inovação, mesmo assim são possíveis  ilações paradigmáticas sobre a tríade de Malebranche, dizendo que o mundo de nossos sentidos refere-se ao macrocosmo ou o universo de Deus-Pai; o mundo de nossa imaginação se refere ao microcosmo, aquele dos milagres quânticos, similares ao Deus-Filho;  por fim, nossa razão diz respeito ao mundo virtual, as criações da cultura, tendo correspondência com as ações do Espírito Santo.

Como  conclusão, nada impede nossas analogias de compreensão, frutos de nossa capacidade inteligente, permitindo assim que possamos unir o céu e a terra, uma constatação de vitalidade conceitual que une o ser humano ao Universo e às Fontes de seu surgimento. Não obstante, tudo isso só se torna possível, se mantivermos as intuições imediatas que nos sugerem a existência de um Criador, a presença do infinito e do bem como frutos pela presença de Deus.