A semiótica da espiritualidade humana

Preliminarmente, importa oferecer uma ideia do que é a semiótica e o que ela pretende: foi criada por Charles Sanders PEIRCE (1839/1914), com o propósito de descobrir o sentido das coisas e como elas se tornam compreensíveis para nós, acrescidas de nossos propósitos de comunicá-las. Seus objetivos são, portanto, amplos, pretendendo abarcar tudo o que está envolvido com nosso simbolismo cultural.

Ora, a espiritualidade humana é um fenômeno de fácil constatação, porém, estando imiscuída com muitas coisas, pode se tornar difícil de ser apreendida em sua verdadeira natureza: dependendo de um equilíbrio psicofísico, nossa espiritualidade corre o risco de ser apenas um epifenômeno dos processos vitais, o que não é o caso, como veremos a seguir.

Como uma peça adventícia no mundo natural, nosso espírito é sui generis em suas características fundamentais, tornando fácil a sua apreensão como algo essencial à nossa compreensão de um Universo que nos parece estranho, mas ocupando o mais íntimo de nossa substancialidade, sem o que perdemos nossas características as mais essenciais.

Dessa forma, podemos dizer que nosso espírito goza de quatro atributos fundamentais, sem os quais o ser humano perderia sua natureza própria: são eles a criatividade, a racionalidade, o sentimento e a liberdade, que abarcam, em síntese, a capacidade humana de agir, dar coerência às contradições, tornar-se emotivo diante de tudo o que vemos ocorrer e, finalmente, possuir um aparente sentido de ser livre, dentro dos limites de suas possibilidades.

Assim sendo, podemos verificar que a espécie humana é dotada de alto poder de criação inovadora, o que não ocorre com nenhuma outra espécie animal, que vive apenas ao sabor de seus determinismos naturais. Convém ressaltar que essa criatividade transcende tudo o que poderia ser apenas natural, atingindo cumes de grandeza e sublimidade.

Igualmente, por suas características racionais, a mente humana consegue atingir um mundo abstrato de conceitos e ilações de coerência, só tornadas possíveis pelo trabalho de um cérebro que é apenas uma massa de tecidos biológicos, mas que albergam em si algo extraordinário em sua natureza, nossa capacidade de pensar e sofrer com a realidade natural.

Não obstante, tudo isto ficaria incompleto, se não considerássemos a importância que representa nossos sentimentos, avalistas que são do bem e de todos os valores que o ser humano está continuamente aprendendo a ultrapassar, em função de suas limitações culturais. A prevalência de nossa emotividade haverá, um dia, de superar as diferenças e a odiosidade dos preconceitos, que separam os homens entre si.

Em conclusão, nosso espírito é uma realidade que pode ser considerada enriquecendo o natural, mas que se torna excepcional pela sua importância, cabendo á nós, em cada momento de nossa existência, tudo fazer para que este espírito não perca a sua importância, pois é ele que nos caracteriza de uma forma a mais radical, como produtos de Algo que é estranho ao mundo, mas que está aí a nos desafiar em seus propósitos.

O Universo foi criado para que aprendamos a tornar nossa espiritualidade como algo natural, o que demanda uma revolução em todas nossas práticas de vida.