A realidade, além dos cinco sentidos

O conhecimento humano, por não ser de natureza concreta, mas sim virtual, encontra-se afinado com uma percepção translúcida da realidade, oferecendo margens para que possamos atingir níveis inusitados de espiritualidade, dependendo apenas de nosso aprendizado em perceber a realidade de forma não apenas em sua aparência como sujeito/objeto, mas ao contrário, como a manifestação de algo milagroso, a oportunidade para que as coisas  possam ter lugar, a partir da intuição do ser que se coloca em vez do nada.

Dessa forma, a capacidade concreta de nossos sentidos, indicada pela nossa percepção rotular, pode, ao final, sintetizar um quadro sui generis de posturas objetivas que acabam por destruir a originalidade que estaria subjacente à percepção do todo, compondo um mosaico justaposto, à maneira cartesiana, unido apenas pela conexão de suas partes isoladas.

Ora, este é o perigo que ameaça uma possível percepção original e transparente da realidade, a visão holística e rarefeita dos acontecimentos que nos acometem, e que só se torna percebida através de um estado intuitivo e místico de participação desconstrutiva, como queria JACQUES DERRIDA.

Ora, eliminando a diferença entre sujeito e objeto, um conhecimento translúcido quer abarcar tudo ao mesmo tempo, um processo rarefeito e desmaterializado de tudo que possa ser objetivável, dando lugar à percepção imediata de que tudo está relacionado, sob a égide de uma Fonte  que não cria realidade, pois ELA É A REALIDADE.

Adão e Eva viveram no paraíso enquanto puderam perceber a totalidade mística de sua união com o Criador. Porém, na medida em que passaram a sentir a autonomia de sua razão, pela distinção entre o bem e o mal, perderam também a inocência e a pureza, no alvoroço dos acontecimentos que não mais passaram a compreender.

Dessa forma, o ser humano só recuperará a verdade perdida, se ultrapassar a lógica objetiva de sua razão, afastando as tentações de sua autonomia, e começar a perceber que há algo além do mero rótulo de nossas percepções, mas que devem ser superadas pela intuição clara de que não há diferença entre o tempo e o espaço, que tudo se repete para se constituir em algo novo, que o tempo é apenas um momento na transformação permanente de tudo.

É assim que temos de perceber a eternidade, na revelação de que ela é simplesmente o momento de nossa existência que se identifica com a Fonte Eterna da qual tudo dimana, e através da qual alcançamos a certeza de que no processo de criação natural, nada se perde ou é colocado em vão, por fazermos parte do próprio Ser de Deus! O pensador alemão  Karl Christian Friedrich KRAUSE (1781-1832) criou a palavra Panenteismo, com a finalidade de que pudéssemos assim entender de que forma somos parte de Deus sem com Ele nos confundir.

Essa é, pois, para nós, a percepção de uma realidade que não está sujeita aos nossos cinco sentidos, mas representa o encontro feliz de nossa condição de seres animais, limitados e frágeis em suas capacidades, mas convivente com um processo de transparência que nos descortina um novo mundo, cheio de espiritualidade e alegria, pela presença virtual e permanente de Deus em nossas vidas.

Em conclusão, este é o uso mais adequado que podemos fazer de nossa capacidade de compreensão racional, mas que traz em si o milagre de uma revelação transformadora, um viver que é só alegria e agradecimento.