A permanência das virtualidades

O ser virtual é a condição de um Universo em constante transformação, mas que nunca deixa de ser, assumindo sempre novas formas. Ele é o milagre do acontecimento, o surgir momentâneo de tudo o que acontece, através de meu reconhecimento. A atitude ingênua vê o mundo como algo objetivo. Porém, basta só um pouquinho de reflexão para percebermos como tudo é resultado apenas de sua aparição momentânea, um caleidoscópio de sensações e impressões causadas pelo fato de nos sentirmos vivos.

A história é o que fica de tanta transformação, o que nos induz a pensar que há um repositório, um Princípio de Sustentação para tudo o que tem lugar, sem o qual nada estaria acontecendo. A criação é o milagre imanente e transcendente de um desenrolar aparentemente sem sentido, sendo a raça humana a única a ter o privilégio de poder ter disso consciência.

Ora, temos de entender que este tudo é um surgir do nada, sendo princípio e pressuposto da totalidade do que acontece, porém do nada, nada se faz e se tudo se transforma, como pode ainda assim as coisas permanecerem? Ora, tal sensação de permanência é inerente ao Universo em si mesmo, mas depende de nossa consciência para se tornar coerente.

Por isso, o sentir as virtualidades se entende como passivo (estado) e como ativo (ação). Como passivo, o ser humano se refere ao mundo exterior, contemplando a condição de evanescência que afeta tudo o que aparece; como ação, o ser humano está voltado para o interior de sua sensibilidade, assumindo a atitude heroica e consciente de que tudo que é, é também passageiro e também precário, existindo apenas na fragilidade de seus momentos e somente eternizados por objetos ou memórias que nós mesmos criamos.

Dessa forma, viver virtualmente implica contemplação e ação, ontologia e ética. Pois, em relação à nossa natureza mais essencial, reconhecer a virtualidade de nosso ser é flutuar na instabilidade das ocorrências que nos atingem a todo o momento, tornando-nos conscientes de nossa fragilidade diante de uma trama na qual somos também atores. Ora, isso implica em assumir uma atitude corajosa diante das incertezas, uma ascese fortalecida diante do que nos acontece, passando a considerar tudo como resultado de um realismo fantástico, a mágica de uma evolução criadora, na qual cada um de nós tem a obrigação de participar, seja pela nossa autenticidade de nossa vida, seja pela nossa racionalidade simbólica, criando novas formas de compreensão.

Exemplo notável disso é a existência da arte, que a cada olhar nos sugere uma perspectiva diferente, uma imagem refletindo múltiplas coisas, dependendo da intuição de quem as contempla. Dessa forma a pintura, a música, o teatro, a literatura, a fé, são manifestações virtuais que expressam, de forma notável, a natureza peculiar de toda a realidade na qual estamos envolvidos, dando-nos uma indicação do caráter espiritual de tudo que nos diz respeito e nos mostrando, ao mesmo tempo, como é simbólica, mas real, a perfeição de todas as coisas.