A noumênica do Espírito

A palavra grega noumenon se refere a tudo que é contrário ao phainomenon, ou aquilo que aparece, o provisório. Ao contrário, o  noumenon diz respeito ao que é essencial, abstrato e perene sob as aparências do material, sensível e instável, e no século V a.C. teve em ANAXÁGORAS  a sua caracterização como espiritual, fonte de vida e emanação do sagrado.   Assim, a noumênica do Espírito dirá respeito às suas características essenciais, às formas peculiares pelas quais Ele se manifesta. Fica fácil então observar que o Espírito, pura manifestação de essência, possui as seguintes reduções paradigmáticas:

O Espírito é luz eterna que transforma o caos em cosmos, pois como se sabe, pelas leis da cosmologia, o Universo evoluiu a partir de ocorrências consideradas aleatórias e excepcionais, para se constituir nisso que ele é, no transcorrer de bilhões de anos, num aglomerado de estrelas que, arrefecendo, tornaram-se planetas habitáveis. Não obstante, para o Espírito, o tempo é apenas o instante, eclosão de uma transformação cósmica que não tem fim.

O Espírito é fonte de vida, potencialidade da matéria, sem com ela se confundir. Por isso, para explicar a origem da vida, a Bíblia, desde o Gênesis, nos assegura que JAHVÉ tomou um boneco de barro e insuflou-lhe nas narinas um sopro de vida, tornando-o vivente (Gen 2:7). Assim, nosso corpo é pó e o sopro divino é o fato de sermos pó/viventes (sic). Nosso corpo foi preparado para receber o Espírito, um fenômeno biológico apenas sustentado pela evolução,  permitida como vida perene do Espírito.

O Espírito é consciência e criação de valores, pelo fato de possuirmos criatividade, racionalidade, sentimentos e liberdade, acrescida da  consciência de nossa própria existência, de possuir pensamento abstrato, de pensar duas coisas ao mesmo tempo e de nos sentirmos diferentes de nossos corpos;  estas são manifestações mais do que evidentes de que temos em nós algo diferente da materialidade, um princípio de ser que é de outra natureza.

O Espírito é dialético, vitalizado pela contradição, ao criar o tempo e por permitir a ocorrência dos paradoxos, os contrários que convivem em harmonia criativa, como acontece com a atividade dos átomos, no choque entre o positivo e o negativo, gerando o fogo e a luz. Assim surgem também as contradições  entre o ser e o não-ser, o bem e o mal, a vida e a morte, a saúde e a doença, tornando o palco do mundo um cenário de constantes embates, mas cujo objetivo é apenas evoluir de seus próprios contrastes.

 Finalmente, o Espírito é quântico e virtual, por transformar o possível  em real, por eternizar a fluidez do momento, por ser aparente sem deixar de ser concreto e por ser o criador do mundo abstrato, da arte e da cultura. Presente no ser humano como uma qualidade indelével de sua espiritualidade, o Espírito cria a simetria das formas e a variedade das cores,  um  mundo etéreo  que é pura  beleza a nossos sentidos.

Ora, tudo isso nos demonstra a natureza peculiar do Espírito, modelando a matéria, como transcendência na imanência,  cuja fonte divina o faz ser completamente diferente do mundo material, apesar de estar nele como seu habitat ocasional.  Nossa tarefa será, pois, tudo fazer para que Ele se manifeste cada vez mais, uma abertura de sentido a tudo que parece ser o caos, motivando o que seria o passo inicial de transformação radical de nossas vidas, social e espiritual, libertadas agora de seus ridículos preconceitos. Só assim a Universo atingirá  seu pleno desideratum cósmico.