A mente humana e seus conteúdos transcendentes

A vida humana possui três dimensões: vida vegetal, vida animal e vida espiritual, em aparente conflito, por se constituírem como etapas dialéticas de uma realidade que se supera, de tal forma que cada uma parece ser autônoma em relação às anteriores. Dessa forma a vida espiritual representa o clímax de sua consistência, apesar de ser virtual e simbólica.

O dicionário de filosofia de Walter Brugger (S.P. Ed Herder, 1962, p.528) define transcendência como a capacidade humana de ultrapassar os limites dos sentidos externos, ou certa autonomia no perceber conteúdos tidos como a priori ou, finalmente, a elaboração de processos abstratos de nosso pensamento, superando a sua imanência sensível.

O reconhecimento desses casos é abordagem comum para todos aqueles que se dedicam a explorar tais fenômenos, que passamos a resumir:

1) O aparecimento das ideias: PLATÃO as chamou de formas, no sentido de realçar como elas estão implícitas em tudo que nós percebemos, sem as quais as coisas não seriam o que são, em sua originalidade (sic)! Como luz interior que ilumina nossa inteligência, as ideias são conteúdos espirituais de origens transcendentes, por não serem produtos apenas de nosso cérebro. Foi ARISTÓTELES quem separou as formas das coisas através da dicotomia entre matéria prima e forma substancial, o que não deixa de significar uma perda de seu sentido original, imiscuído na realidade de todas as coisas.

2) Os raciocínios lógicos, que dão origem às ilações, às noções de causa e efeito, limites, coerência e argumentação. A formação das ideias não teria nenhuma utilidade, não fosse a lógica que as sustentam.

3) Os princípios de ação, que orientam as atividades humanas, patrocinando a eterna luta entre o bem e mal, o certo e o errado, forjando o palco do mundo e construindo nossa civilização. Os princípios de ação é que fazem do ser humano uma pessoa ética, que deveria zelar pelo império do bem sobre o mal.

4) As aspirações de imortalidade, presentes em todos os níveis da evolução material, tornam-se cruciais na espécie humana, que procura superar os determinismos naturais, pela esperança de que a vida não se extingue com a morte, mas contém um gérmen positivo de que a permanência da vida é o ápice natural de um desejo que se constata universal.

5) As manifestações místicas, como consequência aos desejos de imortalidade, representam o fundamento para tudo que o ser humano concebe em termos de limtes, superando-os, por seus contatos com entidades superiores, pródigas em distribuir graças e proteção às fraquezas que sempre estão presentes.

6) As manifestações  artísticas e suas variações, criando formas de percepção simbólica, eivadas de alto grau de sensibilidade, presentes não apenas nas intuições de seus atores, como também em todos que as contemplam. Uma visão da perfeição do Universo tem por fim superar todas as suas contradições aparentemente paradoxais, criando o mito de sua integração a um propósito de arte, uma mística de criação divina.

Assim, pois, não há como negar que o ser humano carrega, em sua mente, a presença concreta de manifestações espiritualizadas, nossa marca indelével de anjos encarnados. Educar as pessoas enfocando suas origens espirituais é tudo o que representa uma autêntica pedagogia de salvação, o que significa o próximo passo em sua evolução, refém ainda de toda sorte de mal-entendidos políticos, ideológicos e culturais.