A gênese dos processos simbólicos

Os símbolos não são apenas objetos ou paradigmas. Na verdade, eles podem ser considerados a categoria fundamental geratriz de nossos conhecimentos, por representarem todas as nossas percepções da realidade, sejam elas ideias, palavras, emoções ou fórmulas matemáticas. Produtos de nosso espírito, os símbolos se nos apresentam criativos, lógicos, emotivos e/ou comportamentais, tudo dependendo da forma como nossa sensibilidade os estruturam.

Pois os símbolos resultam, não apenas do uso de nossos sentidos externos, mas sim dos significados que atribuímos a eles, sua colocação num contexto maior de compreensão de tudo que percebemos. Dessa forma, considerando que os significados simbólicos são infinitos em suas possibilidades, constatamos que eles dão origem a conhecimentos empíricos ou abstratos, emotivos ou culturais de natureza variada.

No limite, os símbolos não são, pois, criações arbitrárias, nominalistas, mas resultam de uma relação triádica (PEIRCE) que se estabelece entre o mundo exterior e meu eu, cujo resultado pode ser um sinal, um signo, um sintoma ou um ícone, tudo dependendo de nossas possibilidades de percepção. Dessa forma, as imagens simbólicas criadas por nossa mente não são apenas fantasias ou abstrações subjetivas (dualimo), mas se colocam numa interação dialética entre o real e o possível, entre o percebido e seus significados, tendo presente o nosso eu (self) como figurante principal.

Assim, os sinais são apreendidos como dependentes de uma indicação exterior: um rastro, um som, uma pista, um gesto ou uma expressão. O mesmo acontece com os sintomas, outra forma de estabelecer relações mutuamente condicionadas, como os sentimentos, as dores, ou as emoções. Já os signos são sinais abstratos, como as palavras, os números, as idéias e as formas.

Por outro lado, os ícones são símbolos carregados de forte carga significativa, por representarem sínteses mentais complexas, culturais e históricas, cuja originalidade e influência resultam de sua própria força representativa. Ex; uma imagem, fotografia, brasão, logotipo, uma obra de arte, um ritual religioso, um rito de passagem, etc.

Os símbolos, pela influência comportamental que dão origem, são fortes estímulos éticos, dos quais resultam concepções de bem e de mal, construindo ou destruindo relações. Igualmente, os símbolos podem ser motivos de felicidade ou tragédia, de guerra ou de paz, de solidão ou de convívio. Por isso, seu uso deve ser disciplinado, o que demandaria uma pedagogia com finalidades específicas, qual seja a de fornecer às pessoas as maneiras saudáveis de utilizar bem as possibilidades imaginativas de suas mentes.

Assim, uma ética simbólica procurará incutir em cada um como manter-se infenso aos processos de imaginação desregrada, ensinando a disciplinar sua imaginação, de forma a que nossas interpretações da realidade sejam coerentes com tudo o que seja bom e cause não só nossa felicidade pessoal, mas o bem das pessoas que nos cercam. Pois, os atos em si não representam nada, quando praticados de uma forma impensada ou inconsciente (‘Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem’. Lucas, 23, 34). Esta é a eterna luta das gerações pelo seu aperfeiçoamento.

Pensar, pois, todas as nossas experiências, subjetivas ou objetivas, como sendo de natureza simbólica, é superar não só os velhos subjetivismos ou dualismos, mas significa dar a devida dimensão conceitual aos relativismos paradoxais do tempo e do espaço; à multiplicidade de perspectivas que possam ser obtidas da análise de cada acontecimento; e, finalmente, captar os significados virtuais mais coerentes em cada situação presenciada, por mais emotivas que elas deixem transparecer.